Somos ensinados a acreditar que trabalho árduo e dedicação levarão ao sucesso, mas nem sempre é o caso. Raça, gênero, deficiência, orientação sexual, religião estão entre os muitos fatores que afetam nossas chances. Por isso, para a escritora e consultora executiva Melinda Epler, cabe a cada um de nós sermos aliados daqueles que enfrentam a discriminação.
Melinda atua há mais de 25 anos no desenvolvimento de estratégias de diversidade e inclusão para empresas. Anteriormente, foi cineasta e trabalhou na televisão estadunidense. Seus projetos ajudaram a expor a crise da AIDS na África do Sul, os efeitos da mudança climática no mundo e a desigualdade de gênero.
Em uma das palestras mais assistidas do TED, a especialista defende que “a mudança acontece [com] uma pessoa de cada vez, um ato de cada vez, uma palavra de cada vez” e compartilha três maneiras de apoiar as pessoas que estão em minoria no local de trabalho. Neste artigo, falaremos quais são elas.
Antes, o que é ser um aliado?
Todos nós podemos ser aliados um dos outros. De muitas maneiras, há sempre alguém menos privilegiado. Mulheres, pessoas LGBTQIA+, minorias raciais e étnicas, pessoas com deficiência, até profissionais seniores enfrentam obstáculos e discriminação.
Ser um aliado é, como assinala Melinda, entender o desequilíbrio nas oportunidades e trabalhar para corrigi-lo. É “enxergar a pessoa ao lado. E a pessoa ausente, que deveria estar ao nosso lado. Primeiro, apenas sabendo pelo que estão passando. E então, ajudando-as a ter sucesso e a prosperar conosco”.
O que podemos fazer como aliados no trabalho?
1. Comece não sendo um dos obstáculos
Logo no início da palestra, Melinda conta sua experiência como executiva em uma empresa internacional de engenharia, em 2013. Era o emprego de seus sonhos, resultado de todas as habilidades que adquiriu ao longo dos anos, e a permitia causar uma mudança real no mundo. Mas, foi a pior experiência profissional da sua vida.
A especialista em Marketing e Cultura relata como microagressões no dia a dia minaram sua confiança, liderança e capacidade de inovar. Quando ela começava a falar em uma reunião, as pessoas a interrompiam ou estavam checando seus celulares. Além disso, algumas de suas ideias foram descartadas e depois utilizadas por outra pessoa.
“Embora houvesse problemas maiores, a maior parte do que aconteceu foram pequenos comportamentos e padrões que lentamente minaram minha capacidade de fazer bem o meu trabalho. […] Eu era a única mulher naquela sala. E precisava de um aliado.”
Como aliados, portanto, nosso trabalho é saber o que são microagressões e não as cometer. Devemos ouvir, aprender, desaprender e reaprender, cometer erros e continuar aprendendo, como diz Melinda, que sugere começar fechando o computador, guardando o celular, não interrompendo e prestando atenção.
“Se uma pessoa é nova ou é a única diferente na sala, ou está apenas nervosa, isso vai fazer uma enorme diferença em como ela se mostrará. Se eu tiver uma ótima ideia, você a ecoa e depois a atribui a mim, e nós prosperamos juntos. Aprendam a linguagem que uso para descrever minha identidade. Saibam como pronunciar meu nome. […] a linguagem que uso para descrever minha deficiência, etnia, religião.”
2. Pequenos gestos fazem a diferença
O segundo passo para ser um aliado no trabalho, defende Melinda, é mudar as dinâmicas de poder. Quando temos alguém na sala sendo menosprezado, interrompido, é preciso agir para garantir que essa pessoa tenha suas ideias ouvidas e respeitadas.
“Defendam pessoas sub-representadas com pequenos gestos. Intervenham, vocês podem mudar as dinâmicas de poder na sala. Convidem essas pessoas para falar. […] Indiquem para um trabalho […]”. Afinal, reflete, é preciso normalizar o “ser aliado” e usar nossos privilégios para criar mudanças.
3. Mude a vida de alguém significativamente
Os programas de diversidade e inclusão ficam mais fortes quando a mudança é defendida em toda a empresa, contribuindo para mudar a vida das pessoas significativamente. Podemos ser aliados uns dos outros, dentro ou fora do trabalho, seja oferecendo uma oportunidade, apoio, orientação ou mesmo um incentivo a pessoas menos privilegiadas.
Como mostra Melinda, basta fazer-se presente para alguém. “Quando estamos presentes e nos apoiamos uns nos outros, nós prosperamos juntos. E quando prosperamos, construímos equipes melhores, melhores produtos e melhores empresas”, conclui.