Hidrogênio Verde: como o seguro pode sustentar a nova matriz energética

10 de setembro de 2025

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

O crescimento do hidrogênio verde, apontado como peça-chave da transição energética, traz desafios inéditos para a indústria e para as seguradoras. Projetos de larga escala, que somam investimentos bilionários, demandam apólices específicas capazes de mitigar riscos operacionais, ambientais e financeiros. 

O seguro representa hoje um requisito para viabilizar financiamentos, proteger ativos e garantir previsibilidade em um mercado ainda em consolidação. 

Cenário global: riscos ainda pouco mensurados 

Em 2023, a demanda global por hidrogênio foi de 97 milhões de toneladas, mas menos de 1% desse volume correspondeu ao hidrogênio verde. Esse dado revela que, embora o interesse e os investimentos estejam crescendo, a participação efetiva das tecnologias limpas ainda é incipiente. Para seguradoras, isso significa lidar com um mercado em fase de maturação, no qual faltam séries históricas consolidadas para avaliação de riscos. 

O avanço na capacidade de eletrólise — de pouco mais de 1 GW em 2020 para 20 GW em 2023 — demonstra velocidade de expansão incomum para novas tecnologias energéticas. Ao mesmo tempo, reforça a necessidade de seguros que acompanhem riscos associados a equipamentos inovadores, ainda sem padronização global. 

As projeções indicam que até 2030 a oferta de hidrogênio de baixas emissões pode chegar a 20 milhões de toneladas, sendo 60% delas de hidrogênio verde. Para o setor segurador, esse salto não é apenas uma questão de volume: implica em novas demandas de cobertura para projetos em escala industrial, operações de exportação e integração com cadeias de valor globais. 

No campo econômico, o tamanho do mercado global de hidrogênio verde deve atingir US$ 328 bilhões até 2035, com crescimento médio anual de 40,7%. Tal ritmo exige soluções securitárias mais sofisticadas, sob risco de inviabilizar a captação de investimentos em regiões que não apresentarem garantias adequadas. 

Brasil em destaque 

O Brasil se posiciona de forma privilegiada. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o país pode alcançar 41 GW de capacidade de eletrólise até 2030, o que o colocaria entre os maiores players globais. Esse potencial está diretamente ligado à abundância de fontes renováveis competitivas (solar e eólica) que reduzem custos e aumentam a atratividade dos projetos. 

Exemplos como o da australiana Fortescue, no Ceará — R$ 20 bilhões em investimentos, 500 toneladas diárias de produção de hidrogênio verde a partir de 1,2 GW de energia renovável — ilustram a escala dos projetos em andamento. Para o mercado segurador, operações desse porte representam um novo patamar de complexidade: riscos de engenharia, contratos de longo prazo e exposição a variáveis geopolíticas. 

O diferencial brasileiro, portanto, não está apenas em produzir, mas em garantir competitividade internacional com estruturas de financiamento seguras. Nesse contexto, o seguro torna-se ativo estratégico para destravar investimentos. 

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Riscos complexos 

Projetos de hidrogênio verde reúnem características que desafiam a lógica tradicional da precificação de riscos: 

  • Falhas em processos de eletrólise, armazenamento e transporte ainda não possuem base estatística robusta; 
  • Riscos de vazamentos somados à ausência de normas internacionais consolidadas elevam a exposição; 
  • Atrasos, aumento de custos e incertezas sobre demanda afetam diretamente a sustentabilidade financeira dos projetos. 
  • A escassez de histórico dificulta a modelagem atuarial, exigindo maior interação entre seguradoras, investidores e órgãos reguladores. 

Esses fatores tornam essencial a construção de modelos de seguro sob medida, que combinem visão técnica, flexibilidade contratual e mecanismos de mitigação integrados desde o início do projeto. 

O papel do seguro no avanço do hidrogênio verde  

Num setor emergente como o hidrogênio verde, o seguro não é apenas proteção: é viabilizador de negócios. Sua atuação pode se desdobrar em quatro eixos principais: 

  1. Redução de assimetrias – cláusulas referenciais e padronizações trazem previsibilidade para investidores e seguradoras.
  2. Viabilização de financiamentos – instituições financeiras exigem apólices robustas como pré-condição para liberar crédito em larga escala.
  3. Proteção de ativos – coberturas desenhadas sob medida mitigam riscos operacionais e asseguram a continuidade da produção.
  4. Reputação e credibilidade – empresas que apresentam programas de seguro consistentes se destacam em cadeias globais, reforçando seu valor ESG.

O hidrogênio verde representa uma oportunidade histórica para o Brasil e o mundo no avanço da transição energética. Seu sucesso, no entanto, dependerá tanto da evolução tecnológica quanto da maturidade do mercado segurador em oferecer soluções alinhadas a riscos inéditos. 

Mais do que uma cobertura contratual, o seguro será o alicerce que permitirá transformar inovação em realidade, conectando investidores, empreendedores e sociedade em torno de uma nova matriz energética. 

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