Com a COP30 marcada para 10 de novembro em Belém (PA), o mercado brasileiro de seguros se prepara para uma virada histórica. O setor, antes concentrado na cobertura de perdas, passa a ocupar um papel mais amplo: catalisar adaptação, resiliência e financiamento climático.
A conferência chega em um momento em que as mudanças ambientais e a pressão regulatória se cruzam com as finanças sustentáveis. Isso exige que o ecossistema do seguro (da regulação à precificação) evolua rapidamente para acompanhar as novas dinâmicas de risco e capital.
Linhas estratégicas em transformação
Infraestrutura resiliente e grandes riscos
Ativos estratégicos como portos, aeroportos, hidrelétricas e obras de infraestrutura passam a exigir modelos de seguro que combinem prevenção, resiliência e financiamento. O foco deixa de ser a indenização isolada e se desloca para o fortalecimento de parcerias público-privadas, instrumentos de garantia e contratos que antecipam perdas e reduzem vulnerabilidades.
Inclusão securitária e proteção social
O aumento da frequência de eventos climáticos extremos revela uma lacuna crítica de proteção. Soluções massificadas e acessíveis – como microseguros, seguros paramétricos e produtos vinculados à agenda social e climática – emergem como caminhos para ampliar a cobertura e garantir resposta rápida em desastres naturais.
Finanças verdes e mobilização de capital
O seguro se reposiciona como vetor financeiro. Em vez de apenas consumidor de capital, passa a ser investidor e mitigador de risco. Na COP30, os debates devem girar em torno da integração entre seguros e instrumentos financeiros verdes: fundos de transição ecológica, garantias climáticas, taxonomias sustentáveis e mecanismos de blended finance que viabilizam projetos de impacto.
Regulação, governança e inovação
A expectativa é de avanços na agenda regulatória liderada pela Susep, com foco em taxonomias verdes, transparência ESG e modelos inovadores de precificação e cobertura. Seguros paramétricos, dados climáticos em tempo real e plataformas de análise de risco devem ganhar espaço, conectando governança, tecnologia e sustentabilidade.
Onde estão as novas oportunidades
- Desenvolver produtos de nova geração: apólices vinculadas a gatilhos climáticos, seguros de natureza (SBN) e coberturas para riscos de transição e litígio ambiental.
- Expandir a proteção e reduzir desigualdades: atender populações subprotegidas e regiões expostas, contribuindo para a estabilidade econômica e social.
- Atrair capital privado: atuar como facilitador de investimentos em infraestrutura resiliente, energias renováveis e bioeconomia.
- Aprimorar governança e inteligência de risco: investir em dados climáticos, modelagem e sistemas que reflitam a nova realidade de exposição global.
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Desafios no horizonte da COP30
O encontro em Belém deve enfrentar temas complexos: a mensuração de riscos climáticos ainda incertos, a integração entre regulação, infraestrutura e finanças, e a urgência de superar a lacuna de cobertura em mercados vulneráveis.
O desafio central será evoluir de um modelo reativo (baseado na indenização) para um modelo proativo, capaz de investir em adaptação, mitigação e transformação.
Um marco para o setor de seguros
A COP30 representa a oportunidade de reposicionar o seguro como peça estratégica da transição climática e financeira. O setor deixa de ser mero amortecedor de perdas e passa a ser indutor de investimentos, desenvolvimento sustentável e estabilidade econômica.
O palco global de Belém simboliza esse ponto de inflexão: o momento em que o seguro deixa de atuar nos bastidores e assume protagonismo na construção de um futuro mais resiliente – para o mercado, para a economia e para o planeta.


