Um ano após a sanção da Lei nº 14.993/2024, o Combustível do Futuro deixou de ser apenas uma diretriz ambiental e passou a integrar a agenda estratégica corporativa, influenciando decisões de investimento, contratos de longo prazo e gestão de riscos.
Ao criar um arcabouço para combustíveis de baixa emissão – como SAF, diesel verde e hidrogênio de baixo carbono – o Brasil reforçou a previsibilidade regulatória em um tema sensível ao capital intensivo e à competitividade de longo prazo.
O que o marco regulatório sinaliza ao mercado
A Lei do Combustível do Futuro envia ao mercado uma sinalização clara de previsibilidade regulatória em um tema marcado por investimentos intensivos em capital e decisões de longo prazo.
Ao estabelecer metas graduais e instrumentos de acompanhamento, o marco reduz o risco de rupturas operacionais e cria um ambiente mais favorável à alocação de recursos em infraestrutura, tecnologia e inovação energética.
Esse desenho regulatório também reforça o alinhamento do Brasil às agendas globais de descarbonização, financiamento sustentável e critérios ESG, influenciando diretamente a forma como projetos são avaliados, financiados e priorizados pelas empresas.
Para o ambiente corporativo, o principal impacto não está apenas nos custos imediatos, mas na reorganização dos modelos de decisão, na gestão de riscos e na construção de estratégias mais resilientes no médio e longo prazo.
Impactos já observados nas empresas
Mesmo no primeiro ano, já se observam:
- revisão de contratos de fornecimento e logística;
- reavaliação de ativos, CAPEX e planos de expansão;
- maior exigência de rastreabilidade, métricas de emissões e governança de dados;
- integração mais estreita entre produtores, distribuidores e consumidores finais.
Esses movimentos indicam que a transição energética começa a migrar do discurso para a execução.
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Principais desafios no curto e médio prazo
Apesar dos avanços regulatórios, os desafios no curto e médio prazo permanecem relevantes.
A ampliação da oferta de combustíveis sustentáveis em escala competitiva, a adequação da infraestrutura existente e o equilíbrio entre custo, eficiência operacional e retorno sobre investimento seguem como pontos críticos para as empresas.
Soma-se a isso a dependência de fiscalização consistente, métricas claras de impacto ambiental e coordenação entre agentes públicos e privados, fatores que influenciam diretamente a previsibilidade dos projetos e a tomada de decisão.
Ampliação do mapa de riscos corporativos
A transição para combustíveis sustentáveis amplia e complexifica o mapa de riscos corporativos. À medida que novas exigências regulatórias entram em vigor e tecnologias ainda em consolidação ganham escala, empresas passam a lidar simultaneamente com riscos regulatórios, operacionais, tecnológicos, financeiros e reputacionais.
Mudanças em marcos legais, dependência de fornecedores específicos, volatilidade de insumos e impactos sobre a continuidade operacional tornam-se variáveis críticas no processo decisório.
Nesse contexto, a gestão de riscos deixa de ser reativa e passa a exigir uma abordagem integrada, conectando estratégia, compliance, finanças e operações. Organizações que incorporam esses fatores aos seus modelos de risco e planejamento estratégico tendem a tomar decisões mais resilientes, proteger investimentos de longo prazo e reduzir exposições não intencionais.
O que lideranças e conselhos devem observar agora
- Como a transição energética impacta contratos, ativos e estrutura de custos;
- Se os modelos de risco consideram cenários regulatórios e tecnológicos;
- O nível de maturidade em dados, métricas ambientais e governança;
- A capacidade de transformar exigências regulatórias em vantagem competitiva.
O diferencial competitivo estará menos em cumprir a regra e mais em antecipar cenários, estruturar decisões e proteger o negócio em um ambiente energético em transformação.


