Nos últimos anos, a saúde mental tem sido alvo de grande preocupação entre os profissionais da saúde em todo o mundo; inclusive, a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o planeta, além de contribuir de forma importante para a carga global de doenças.
Quando observamos a realidade do nosso país, encontramos um cenário ainda mais alarmante: o Brasil é um dos lugares mais preocupantes em termos de problemas em saúde mental, com 9,3% da população apresentando sintomas ansiosos e quase 6% com sintomas depressivos. Neste cenário, as mulheres são as que mais sentem as consequências: 7,7% e 5,1% dos quadros ansiosos e depressivos, respectivamente, são do sexo feminino.
Já é estabelecido na literatura científica que mulheres têm maior predisposição para algumas questões de saúde mental, especialmente a depressão, ansiedade e transtorno bipolar, devido a fatores fisiológicos, ambientais e sociais. Pode-se dizer que tendem a “internalizar” o sofrimento, enquanto nos homens há risco maior de “exteriorizá-lo”, ficando mais suscetíveis aos transtornos associados ao uso de álcool e drogas, transtornos de personalidade antissocial e do controle de impulso, por exemplo.
Saúde mental das mulheres e a relação com o trabalho
Especialmente em relação às mulheres, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), aponta que mesmo com diversos esforços nas últimas décadas, elas continuam enfrentando obstáculos significativos no que tangem as questões laborais.
No mundo todo, quando comparadas aos homens, as mulheres sofrem mais com o desemprego, têm menos oportunidades de participar no mercado de trabalho e não são poucas as vezes que têm de aceitar empregos de qualidade inferior. Independente do cargo que ocupam, estão mais propensas a serem alvos de tratamento injusto, abusivo e vítimas de assédio neste ambiente. Tais práticas, além do impacto direto na pessoa, reforçam um contexto de hostilidade e desconforto para as mulheres.
No relatório “Iniciativa Mulheres no Trabalho: o Impulso para a Igualdade”, da OIT, os autores reforçam que o ambiente de trabalho foi originalmente modelado “pelos homens e para os homens” e não se adaptou com a integração das mulheres neste campo, exigindo que elas se adequassem ao padrão. E isso se mantém até os dias de hoje.
O emprego remunerado foi adicionado a sua lista de tarefas. Para se ter uma ideia, estima-se que as mulheres realizam, mesmo com diversos avanços em termos educacionais e laborais, cerca de 2,5x mais tarefas domésticas não remuneradas e de cuidados que os homens. Além de desgastante, essa realidade muitas vezes limita suas chances de dedicar mais tempo ao trabalho, reduzindo oportunidades de crescimento profissional.
Duplo desafio: tempos de pandemia e isolamento social
Além de todos os fatores estressores já citados, a Organização das Nações Unidas destacou uma preocupação ainda maior com o sofrimento psicológico das mulheres em tempos de pandemia. Isso porque grande parte delas estão fazendo malabarismos para dar conta do trabalho, associando as tarefas de casa e a educação dos filhos.
Um estudo nacional divulgado pela Fiocruz, realizado com mais de 44 mil brasileiros entre os meses de abril e maio de 2020, constatou que mulheres são as mais impactadas com a pandemia de covid-19: 43% delas referiram sentir-se muitas vezes tristes/deprimidas e 47% se sentiram muitas vezes ansiosas/nervosas. Entre os homens, constataram 26% e 35% de sintomas depressivos e ansiosos, respectivamente.
Em um mundo fora da pandemia, era possível dosar um pouco mais as responsabilidades. Porém, com o isolamento social, precisamos nos adaptar a essa nova perspectiva, e os momentos de “descompressão” que antes eram possíveis, passaram a ser inviáveis – seja o café com os amigos, a aula de pilates no fim do dia ou o simples percurso entre trabalho-casa no qual se era possível dar um respiro.
Reduzindo os impactos negativos no ambiente de trabalho
Pensando em boas práticas em saúde mental no ambiente de trabalho, pode-se destacar três aspectos importantes a serem abordados em diferentes níveis:
- nível organizacional: inclui diagnosticar e propor mudanças na cultura e nos fatores físicos e ambientais da instituição;
- nível social: melhorando e/ou desenvolvendo a comunicação interpessoal, suporte social e políticas contra bullying e assédio;
- nível pessoal/individual: corresponde ao desenvolvimento de recursos psíquicos e fortalecimento de habilidades para o indivíduo lidar ou enfrentar o estresse.
Especialmente em relação ao último nível, vale ressaltar que todos estão susceptíveis a se deparar com situações de estresse e outros desconfortos emocionais, dentro ou fora do trabalho. Independente da possibilidade de ações nos níveis organizacional e social, fortalecer habilidades de enfrentamento a nível pessoal/individual pode auxiliar as pessoas a lidarem com situações estressantes de maneiras mais saudáveis.
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