O agronegócio possui inúmeros fatores que podem interferir na produção e a consequente lucratividade. Fatores climáticos como falta de chuva ou chuva em excesso, instabilidade do mercado tanto no valor de insumos quanto no valor de venda do produto final, além das condições do solo e sua capacidade produtiva. Por isso, é preciso fazer uma gestão de risco eficiente.
Realizar manejos de solo durante todo o processo produtivo é algo que se torna cada vez mais indispensável para que a produção seja eficiente e viável (ambiental e economicamente). Dentro do sistema produtivo, o manejo do solo é uma forte estratégia para controle e proteção da produção.
De que forma isso acontece?
Vamos lá… O solo é uma imensa caixa d’água responsável pela sustentação, dinâmica de nutrientes e nutrição das plantas. Quando o produtor não trabalha estratégias de manejo de solo, ele deixa exposto seu maior patrimônio, assumindo o risco de que a produção pode não ser rentável, caso ocorra algo inesperado.
Imagine uma situação hipotética: Temos um produtor que não realiza nenhum tipo de manejo do solo, não planta culturas de cobertura, não utiliza palhada e trabalha unicamente com o revolvimento do solo para plantio convencional, safra após safra. Agora, imagine outro produtor, que realizou plantio de cultura de inverno, produziu uma palhada de qualidade e já trabalha com o sistema de plantio direto há algumas safras. No caso de um veranico longo durante a safra de verão, qual dos dois produtores estará mais tranquilo quanto à manutenção da umidade do solo, e consequente menor prejuízo na produção?
Provavelmente, aquele que realizou práticas de manejo e conservação do solo estará mais seguro, por conta de todo o investimento realizado anteriormente.
A agricultura é dinâmica e resultado de uma sucessão de processos. É um erro achar que o sucesso se faz a partir do manejo de cada safra separadamente. O processo produtivo eficiente é resultado de uma sequência de manejos em safras e entressafras, planejado e estudado para que o produtor tenha uma clara gestão de riscos.
A cultura de inverno como parte da gestão de risco
As culturas de inverno são excelentes alternativas para produção de palhada de qualidade – com um custo razoável, a depender da região – uma vez que as culturas de verão não costumam gerar grandes volumes na maior parte das zonas produtoras.
A escolha de uma cultura de inverno deve ser uma decisão bem pensada, uma vez que geralmente é semeada em períodos críticos de condições climáticas e produtivas como precipitação, temperatura e, inclusive, luminosidade. Essas culturas podem ser de cunho comercial ou não.
Por isso, é preciso analisar estrategicamente, para que a cultura não se torne mais um problema, em vez de funcionar como uma solução. Pois, caso a cultura não seja adequada para a região e época do ano, o prejuízo financeiro pode ser significativo.
Leia também:
Atenção ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático
É pensando em auxiliar nessas decisões de escolhas de culturas pela região e época do ano que existe o Zoneamento Agrícola de Risco Climático, conhecido como ZARC. A partir dele, há um direcionamento sobre quais culturas podem ser cultivadas em determinada época, de forma segura na sua região.
Dessa forma, as culturas que trabalham bem na função de cobertura de solo e/ou adubação verde são as mais indicadas para períodos de inverno, com pouca chuva e temperaturas baixas na maioria das regiões do Brasil.
O método de Zoneamento Agrícola, aplicado no Brasil oficialmente desde 1996, proporciona a indicação de datas ou períodos de plantio/semeadura por cultura e por município, considerando as características do clima, o tipo de solo e ciclo de cultivares, de forma a evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis das culturas, minimizando perdas agrícolas. A tecnologia constitui-se, portanto, em uma ferramenta crucial para o apoio à tomada de decisão para o planejamento e a execução de atividades agrícolas, para políticas públicas e, notadamente, à seguridade agrícola.
Sendo assim, a escolha da cultura e cultivar a ser utilizada, mesmo que unicamente para cobertura de solo, deve estar de acordo com as recomendações dentro do ZARC. Pois, ao semear uma cultura de cobertura, o produtor espera que esse investimento dê retorno na produção de uma palhada de qualidade. E uma vez que seja escolhida uma cultura que não vai bem naquela época do ano, o resultado em produção de massa seca pode ser seriamente afetado e a prática de manejo de solo não será eficiente.
Como escolher a cultura de cobertura para o inverno?
Em regiões onde se pratica o plantio direto, depois da colheita da safrinha é hora das plantas de cobertura assumirem a área de cultivo. Essas plantas têm o papel de proteger a superfície e melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo, beneficiando as culturas comerciais.
Como sugerido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), para a escolha dessa cultura de cobertura, diversos aspectos devem ser levados em conta, como:
- Necessidade da cultura comercial subsequente – a fim de que a cultura de cobertura ofereça benefícios para a cultura seguinte de forma direta. Por exemplo, podemos citar a fixação biológica de nitrogênio gerada por culturas de cobertura leguminosas para culturas gramíneas, cultivadas na safra de verão seguinte.
- Produção de fitomassa – incluir plantas que promovem maior fixação de carbono e com raízes mais profundas e agressivas, com maior produção de massa seca.
- Características da planta – é importante observar produção de massa seca, velocidade de crescimento, resistência à seca, à geada, às pragas e doenças, capacidade de cobertura de solo e outras características próprias do cultivo.
- Época de semeadura – observar se as culturas são próprias para inverno, como a aveia preta, aveia branca, centeio, tremoço branco, tremoço azul, ervilha forrageira, ervilhaca comum e nabo forrageiro.
- Capacidade de manejo – de nada adianta a planta ter excelentes características se o produtor não tem condições de manejá-la, como implementos e conhecimento prático.
Todas essas características devem ser levadas em consideração e colocadas na balança ao escolher a cultura que melhor se adeque às necessidades do produtor e do solo da região. O importante é fazer com que o manejo do solo no inverno seja mais uma ferramenta para a gestão de risco de todas as safras.
Leia também:
Seguro como ferramenta de gestão de risco
É fato que o clima pode determinar perdas relevantes na produção. Nesse sentido, pode-se afirmar que a agricultura brasileira está exposta a um mar de riscos. Logo, as práticas de gestão de riscos demandam certa sofisticação.
A gestão de risco envolve uma combinação de medidas. A definição da estratégia e escolha das políticas são influenciadas por duas dimensões-chaves: a probabilidade de ocorrência dos eventos e a severidade dos impactos.
São as três principais ferramentas de gestão:
Prevenção ou mitigação – tem como objetivo reduzir a probabilidade de ocorrência de eventos adversos ou reduzir seus impactos. O zoneamento de áreas próprias para cultivo de determinadas culturas é um exemplo.
Enfrentamento ou resposta – objetiva aliviar os efeitos negativos provocados pela ocorrência dos eventos. Um exemplo é o Programa Garantia Safra, que disponibiliza um benefício em dinheiro para pequenos agricultores de municípios que sofrem com a perda de pelo menos 50% do conjunto das produções.
Transferência – visa diluir os efeitos econômicos negativos. O seguro rural é um bom exemplo. Por meio dele, o produtor transfere uma despesa futura e incerta (dano), de valor elevado, por uma despesa antecipada e certa de valor relativamente menor. É como o seguro de um automóvel.
O seguro agrícola é a modalidade de maior destaque do seguro rural no Brasil. Ele cobre basicamente a vida da planta, desde seu nascimento até a colheita, evitando prejuízos causados pela maioria dos riscos meteorológicos, como a seca, raio e incêndio, ventos fortes, granizo, chuvas abundantes, entre outros.
Esse tipo de seguro é utilizado, também, para assegurar o faturamento. Pois, em caso de variação da produção ou oscilação dos preços de comercialização, a receita das vendas continua protegida.
Ao gerenciar essas perdas, o seguro garante a continuidade dos negócios, trazendo segurança e equilíbrio para àqueles que vivem da terra.
Quer entender melhor sobre o ramo dos seguros e como esse setor está diretamente ligado ao agronegócio? Acompanhe o conteúdo desta parceria entre Agromulher e It’sSeg!