Quem leva uma vida mais saudável deveria pagar menos pelo plano de saúde?

19 de setembro de 2017

Parece até uma pergunta simples. Afinal, é esperado que quem tenha hábitos saudáveis, fique menos doente e use menos o plano. Deveriam pagar menos? A resposta foi sim para 74% das pessoas entrevistadas para o estudo Avaliação de Planos de Saúde, realizado pelo IESS, em parceria com o Ibope. Mas a discussão não é nada simples.

No Brasil, pela lei que regula os planos, com exceção da idade, não é permitido aplicar nenhum outro fator para diferenciar o valor pago. Sexo, doenças pré-existentes, pré-disposição genética, ou qualquer outra característica ou hábito que influencie o comportamento de uso estão fora de cogitação. A lei protege para que este tipo de diferenciação não seja usada para rotular as pessoas.

Além da questão legal, como seria possível, dentro de uma carteira de clientes de um plano de saúde, por exemplo, identificar quem pratica atividades físicas, segue uma dieta equilibrada, enfim, quem realmente tem bons hábitos de saúde? A tecnologia permite o monitoramento por meio de wearables. Algumas seguradoras de automóveis já rastreiam clientes por aplicativos para avaliar o comportamento no trânsito antes de definir o preço do seguro. Quem dirige com mais responsabilidade, paga menos. Afinal, as chances de se envolver em um acidente são proporcionalmente menores.

O acompanhamento de hábitos de saúde por meio de wearables parece outra história. Já nos acostumamos com um certo nível de invasão de privacidade por meio de aplicativos de celulares e pelo acesso à internet em geral. Mas abrir nossa rotina e nossa intimidade para um plano de saúde causa receio, parece invasivo e até antiético.

Então, como reconhecer quem realmente é mais saudável?

Se a lei brasileira proíbe a diferenciação com base nos hábitos de vida e o monitoramento é não é bem aceito, cobrar menos das pessoas com bons hábitos de saúde não é viável. Mas é possível bonificá-las. É uma alternativa de incentivo simples e de impacto positivo.

Algumas operadoras de saúde nos Estados Unidos e na África do Sul, por exemplo, criaram programas que estabelecem metas diárias aos seus usuários. A ideia não é punir quem não faz, mas engajar todos a terem uma vida com mais qualidade. Quem cumprir as metas, acumula pontos que podem ser trocados por produtos relacionados à saúde ou descontos no plano.

Iniciativas desse tipo são perfeitamente adaptáveis à realidade brasileira. Não geram custos adicionais ou prejuízo ao sistema de mutualismo da saúde privada – todos pagam o mesmo para que, quando alguém do mesmo grupo precise usar, a conta continue equilibrada. Ajudariam a reduzir o custo com as despesas assistenciais. Quem se cuida mais, é recompensado por isso. Quem não consegue mudar seus hábitos de vida, não é financeiramente prejudicado. Prejudica somente sua saúde.

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