O sobrepeso é o maior problema de saúde pública no País, é o que constatou a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2016), realizada pelo Ministério da Saúde com 53.210 pessoas maiores de 18 anos, de todas as capitais.
O estudo, realizado desde 2006 para mapear a situação da saúde da população, chegou a resultados preocupantes. Do início da pesquisa até 2016 a obesidade aumentou 60%, principalmente entre pessoas de 25 a 44 anos. Por outro lado, o consumo de refrigerantes e cigarros caiu e a prática de atividades físicas como lazer cresceu.
Esses números, que à primeira vista parecem não estar relacionados entre si, são característicos de uma sociedade que está na fase de transição entre a desnutrição e excesso de peso, atual perfil do Brasil.
O peso das doenças crônicas
O Vigitel constatou uma infeliz combinação: conforme a obesidade avança, as doenças crônicas seguem a mesma tendência. No mesmo período avaliado, a incidência de diabetes cresceu 61,8% e hipertensão, 14,2%, com maior prevalência nas mulheres. Todos os anos doenças cardiovasculares, desencadeadas pela pressão alta, diabetes, problemas respiratórios e câncer, correspondem a 74% dos óbitos no País.
O motivo para esse cenário pode estar na redução da quantidade de alimentos saudáveis no prato dos brasileiros. O consumo de feijão, por exemplo, caiu de 67,5% em 2012 para 61,3% em 2016. Apenas 1 entre 3 adultos consome frutas e hortaliças cinco dias por semana.
Além disso, outro fator de risco, o alcoolismo, aumentou de 15,7% para 19,1% em 10 anos. É considerada ingestão abusiva de álcool acima de 4 doses em uma mesma ocasião no intervalo de 30 dias para mulheres e acima de 5 para homens.
Mudanças positivas
O estudo trouxe boas notícias. O consumo de refrigerantes e sucos artificias foi de 30,9% em 2007 para 16,5% em 2016. Os brasileiros também estão fumando menos, o tabagismo reduziu 42% desde 2002, e se exercitando mais – em 2009 apenas 30,3% praticava ao menos 150 minutos de atividade física por semana, agora são 37,6%. Os jovens entre 18 e 24 anos são os que mais aproveitam o tempo livre com exercícios, cerca de 52%.
Além disso, foi registrada a redução de 2,6% da mortalidade prematura por doenças crônicas entre adultos (30 a 69 anos), número acima da meta de redução de 2% ao ano acordada pelo Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil 2011-2022. Esse é um dos resultados do avanço da assistência e acesso a medicamentos e serviços para controle precoce dessas doenças.
Promoção de saúde em foco
Incentivar uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividade física, e reduzir obesidade são as prioridades do Ministério da Saúde. O País assumiu a meta de frear o avanço do sobrepeso até 2019 por meio de políticas intersetoriais de saúde e segurança alimentar e nutricional e aumentar no mínimo 17,8% o consumo diário de frutas e hortaliças.
Segundo a psicóloga, coach de saúde e gerente de Promoção de Saúde da It’sSeg Seguros Inteligentes, Karina Stryjer, existem fortes movimentos no setor de saúde privada para combater as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), porém muitas empresas clientes dos planos de saúde têm dificuldades no desenvolvimento de um plano estruturado de promoção de saúde e bem-estar. “O primeiro passo é iniciar um processo de comunicação que engaje, no sentido de sensibilizar toda a população para a adoção de hábitos saudáveis. O segundo passo é detectar quais os pontos a serem atacados dentro de um plano de médio a longo prazo. Sim! Promoção de saúde tem data para início, mas sem data para finalização. Trata-se de uma jornada que deverá contar com parcerias de profissionais da área de saúde da empresa e terceiros”, destaca Stryjer.
A escolha de indicadores a serem medidos no antes e depois de cada ação de saúde deve ser premissa básica para qualquer campanha. “Em um estudo recente sobre indicadores de saúde para uma população de 6 mil funcionários de uma Indústria do Estado de São Paulo, a área de Promoção de Saúde da It´sSeg Seguros Inteligentes levantou que 62% da população apresentava nível de atividade física abaixo do esperado (menos 30 minutos, 5 vezes na semana), 56% estava acima do peso ideal e 85% relatava desconhecer os perigos da hipertensão. Estes dados, dentre tantos outros, nos fazem chegar à conclusão que, apesar de muita informação, ainda não há de fato ações de mudança e é neste sentido que a empresa pode ser um ótimo canal para transformação, não somente do bem-estar individual, como também do grupo”, afirma a especialista.
Além da detecção dos indicadores e das linhas de trabalho de um programa de promoção de saúde, é fundamental saber o estado de prontidão para a mudança de uma empresa, isso é, o esforço que ela está disposta a fazer para possibilitar o engajamento dos colaboradores. “Às vezes é prudente aguardar o momento de turbulência e deixar o lançamento do programa para quando a empresa estiver mais aberta a ouvir e acolher o que cada um tem a relatar”, ressalta Karina.
Em visita recente ao Brasil para participação no XVI Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida, o Presidente do IAWHP (International Association of Worksite Health Promotion), Charles Estey, reforçou que as empresas devem montar um plano estratégico de pelo menos três anos, contemplando o levantamento de dados e indicadores de saúde, implementação de programas por meio da sensibilização e comunicação (o apoio dos líderes é essencial neste processo) e medidas de resultados para verificação do retorno sobre investimento. Avaliar a satisfação do colaborador também deve ser levado em consideração para decidir os rumos do programa. Outro ponto que Charles ressalta é a importância cada vez maior da conexão do programa com a rede de planos de saúde (médico, odontológico e medicamentos), pois esta conectividade pode melhorar tanto a saúde do colaborador e família, como também manter os recursos com maior sustentabilidade, sem desperdícios e utilização mais consciente.