Aumento do uso de medicamentos e o avanço dos afastamentos revelam um risco estrutural

17 de dezembro de 2025

Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Pesquisa realizada pela School of Life e Robert Half mostra que mais da metade dos profissionais brasileiros já recorre a psicofármacos para lidar com estresse, ansiedade e burnout. 

Entre 2024 e 2025, o consumo mais que dobrou. Entre líderes, o índice saltou de 18% para 52%. Entre os demais profissionais, o crescimento foi de 21% para 59%. Esses dados indicam que o uso de ansiolíticos e antidepressivos deixou de ser pontual e passou a funcionar, em muitos casos, como um mecanismo individual de sustentação da performance em contextos de pressão contínua. 

Diagnósticos em alta e o limite da estratégia individual  

O levantamento também aponta que 27% dos líderes e 26% dos profissionais receberam diagnóstico de estresse, ansiedade ou burnout no último ano. Esse dado reforça que o uso de medicamentos, embora frequente, não elimina a progressão do adoecimento quando as causas organizacionais permanecem ativas. 

Quando a estratégia individual deixa de ser suficiente, o impacto tende a se materializar em afastamentos do trabalho, com reflexos diretos na produtividade e nos custos corporativos. 

A correlação com o crescimento dos afastamentos por transtornos mentais 

Os dados da pesquisa dialogam diretamente com os indicadores nacionais de afastamento. Segundo o SmartLab – Observatório de Saúde e Segurança no Trabalho (OIT e MPT), apenas em 2024 foram concedidos mais de 470 mil benefícios previdenciários relacionados à saúde mental, um aumento de 66,5% em relação a 2023. 

Os códigos F32 (episódios depressivos) e F41 (transtornos ansiosos) figuram entre os principais motivos de afastamento por incapacidade temporária no Brasil. Trata-se de uma mudança relevante no perfil do adoecimento ocupacional, que desloca o foco da dor física para o sofrimento psíquico associado às condições de trabalho. 

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O silêncio organizacional como fator de agravamento  

Apesar da escalada dos indicadores, o tema ainda enfrenta barreiras culturais. De acordo com a pesquisa, a maioria dos gestores e uma parcela expressiva dos profissionais não comunica o uso de medicação ou o sofrimento emocional às lideranças. 

Esse silêncio reduz a possibilidade de intervenções precoces, dificulta o acesso a suporte adequado e amplia o risco de afastamentos de média e longa duração, agravando impactos humanos e financeiros. 

Baixo preparo corporativo para riscos psicossociais  

Outro ponto crítico é o desalinhamento entre a dimensão do problema e o nível de resposta das organizações. Apenas uma minoria dos profissionais afirma que suas empresas possuem estratégias práticas de prevenção de riscos psicossociais alinhadas à NR-1. 

Esse cenário evidencia que a saúde mental ainda é tratada de forma reativa, quando os efeitos já comprometem pessoas, equipes e resultados. 

Saúde mental como eixo de desempenho e sustentabilidade 

Ao mesmo tempo, há consenso quase unânime de que o bem-estar emocional impacta diretamente a performance. Executivos e colaboradores reconhecem que equilíbrio emocional, engajamento e produtividade estão interligados. 

A leitura integrada desses dados aponta para um direcionamento claro: investir em prevenção, preparar lideranças e estruturar políticas de saúde mental não é apenas uma demanda social, mas uma decisão estratégica para reduzir afastamentos, preservar o capital humano e garantir a sustentabilidade dos negócios. 

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