O Brasil enfrenta um desafio estrutural que afeta diretamente sua produtividade e competitividade econômica. Segundo o relatório da Pearson, falhas nas transições entre formação, emprego e atualização profissional representam R$ 1,08 trilhão em perdas anuais — aproximadamente 9% do PIB de 2024.
O estudo identifica três pontos decisivos da trajetória profissional que concentram essas perdas:
- a entrada no mercado de trabalho;
- a movimentação entre empregos;
- o impacto crescente da automação sobre funções tradicionais.
A análise, além de dimensionar o problema, evidencia o potencial econômico de medidas que aproximem educação, mercado e requalificação contínua.
Transições longas representam maior parcela de perdas
A maior parte do prejuízo anual está ligada às transições entre empregos. Segundo o relatório, cerca de R$ 701 bilhões são perdidos no período em que trabalhadores ficam em busca de recolocação.
Atualmente, o Brasil tem 1,4 milhão de pessoas em desemprego prolongado — o equivalente a 20,1% dos desocupados — muitas delas fora do mercado há mais de dois anos. A pesquisa destaca que, quanto maior esse intervalo, maior a deterioração das habilidades, o que aprofunda desigualdades, reduz a empregabilidade e estende o ciclo de perdas.
De forma direta, o estudo aponta que reduzir em 20% o tempo médio de recolocação, hoje estimado em 42 semanas, poderia adicionar R$ 140 bilhões aos rendimentos anuais do país.
Automação amplia a urgência por requalificação
O avanço de tecnologias como automação robótica e IA generativa adiciona pressão ao mercado de trabalho. O relatório estima que 32% das ocupações brasileiras têm alto risco de automação, um índice superior ao dos demais países analisados.
Essa vulnerabilidade está ligada à composição do mercado brasileiro, que concentra mais empregos na indústria (12%) e na agricultura (7%), setores com grande potencial de substituição ou transformação de tarefas.
O estudo destaca que a resposta não deve se limitar à mitigação de riscos. É preciso preparar trabalhadores para novas funções, atualizar competências e integrar tecnologia de forma planejada e inclusiva.
Leia também
Entrada tardia no mercado evidencia descompasso
O relatório também aponta que estudantes, tanto do ensino médio quanto do superior, têm enfrentado um processo de inserção profissional mais lento do que o ideal.
Esse intervalo prolongado indica um descompasso entre o que é ensinado e o que as empresas demandam, gerando desperdício de potencial produtivo logo no início da trajetória profissional e alimentando um ciclo de expectativas frustradas para recém-formados.
Fatores ocultos ampliam o impacto econômico
Além das três transições centrais, a pesquisa identifica elementos adicionais que, embora não entrem no cálculo principal, ampliam significativamente o desafio nacional:
- 4,7 milhões de trabalhadores estão subempregados e desejam atuar em jornadas maiores.
- 24% dos jovens de 18 a 24 anos são “nem-nem” (não estudam, não trabalham e não participam de treinamentos).
- 27% dos jovens de 25 a 34 anos não concluíram o ensino médio, índice 13 pontos acima da média da OCDE.
- 3,1 milhões de pessoas abandonaram a busca por emprego e são classificadas como trabalhadores desmotivados.
Esses grupos representam capacidades produtivas subutilizadas, cuja reintegração ao mercado depende de políticas consistentes de formação, orientação profissional e suporte à retomada da aprendizagem.
Caminhos para destravar o potencial produtivo
A principal contribuição do relatório é mostrar que o país não enfrenta apenas um desafio educacional ou trabalhista, mas uma questão sistêmica que conecta formação, empregabilidade, tecnologia e desenvolvimento econômico.
Com base nas evidências reunidas, o estudo aponta caminhos de impacto direto, entre eles:
- fortalecer políticas de requalificação e de atualização contínua;
- reduzir o tempo de transição entre empregos;
- aproximar currículos educacionais das demandas reais das empresas;
- criar mecanismos de apoio e orientação para pessoas com baixa escolaridade;
- integrar tecnologia e capacitação de forma planejada, evitando rupturas abruptas.
Embora a análise utilize métricas individuais de rendimento, o relatório ressalta que o potencial macroeconômico dessas intervenções é ainda maior, com ganhos em produtividade, competitividade e inclusão.


