Brasil perde R$ 1 trilhão por ano por lacunas entre educação, trabalho e qualificação tecnológica

10 de dezembro de 2025

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

O Brasil enfrenta um desafio estrutural que afeta diretamente sua produtividade e competitividade econômica. Segundo o relatório da Pearson, falhas nas transições entre formação, emprego e atualização profissional representam R$ 1,08 trilhão em perdas anuais — aproximadamente 9% do PIB de 2024. 

O estudo identifica três pontos decisivos da trajetória profissional que concentram essas perdas: 

  1. a entrada no mercado de trabalho; 
  2. a movimentação entre empregos; 
  3. o impacto crescente da automação sobre funções tradicionais. 

A análise, além de dimensionar o problema, evidencia o potencial econômico de medidas que aproximem educação, mercado e requalificação contínua. 

Transições longas representam maior parcela de perdas 

A maior parte do prejuízo anual está ligada às transições entre empregos. Segundo o relatório, cerca de R$ 701 bilhões são perdidos no período em que trabalhadores ficam em busca de recolocação. 

Atualmente, o Brasil tem 1,4 milhão de pessoas em desemprego prolongado — o equivalente a 20,1% dos desocupados — muitas delas fora do mercado há mais de dois anos. A pesquisa destaca que, quanto maior esse intervalo, maior a deterioração das habilidades, o que aprofunda desigualdades, reduz a empregabilidade e estende o ciclo de perdas. 

De forma direta, o estudo aponta que reduzir em 20% o tempo médio de recolocação, hoje estimado em 42 semanas, poderia adicionar R$ 140 bilhões aos rendimentos anuais do país. 

Automação amplia a urgência por requalificação 

O avanço de tecnologias como automação robótica e IA generativa adiciona pressão ao mercado de trabalho. O relatório estima que 32% das ocupações brasileiras têm alto risco de automação, um índice superior ao dos demais países analisados. 

Essa vulnerabilidade está ligada à composição do mercado brasileiro, que concentra mais empregos na indústria (12%) e na agricultura (7%), setores com grande potencial de substituição ou transformação de tarefas. 

O estudo destaca que a resposta não deve se limitar à mitigação de riscos. É preciso preparar trabalhadores para novas funções, atualizar competências e integrar tecnologia de forma planejada e inclusiva. 

Leia também  

Entrada tardia no mercado evidencia descompasso 

O relatório também aponta que estudantes, tanto do ensino médio quanto do superior, têm enfrentado um processo de inserção profissional mais lento do que o ideal. 

Esse intervalo prolongado indica um descompasso entre o que é ensinado e o que as empresas demandam, gerando desperdício de potencial produtivo logo no início da trajetória profissional e alimentando um ciclo de expectativas frustradas para recém-formados. 

Fatores ocultos ampliam o impacto econômico 

Além das três transições centrais, a pesquisa identifica elementos adicionais que, embora não entrem no cálculo principal, ampliam significativamente o desafio nacional: 

  • 4,7 milhões de trabalhadores estão subempregados e desejam atuar em jornadas maiores. 
  • 24% dos jovens de 18 a 24 anos são “nem-nem” (não estudam, não trabalham e não participam de treinamentos). 
  • 27% dos jovens de 25 a 34 anos não concluíram o ensino médio, índice 13 pontos acima da média da OCDE. 
  • 3,1 milhões de pessoas abandonaram a busca por emprego e são classificadas como trabalhadores desmotivados. 

Esses grupos representam capacidades produtivas subutilizadas, cuja reintegração ao mercado depende de políticas consistentes de formação, orientação profissional e suporte à retomada da aprendizagem. 

Caminhos para destravar o potencial produtivo 

A principal contribuição do relatório é mostrar que o país não enfrenta apenas um desafio educacional ou trabalhista, mas uma questão sistêmica que conecta formação, empregabilidade, tecnologia e desenvolvimento econômico. 

Com base nas evidências reunidas, o estudo aponta caminhos de impacto direto, entre eles: 

  • fortalecer políticas de requalificação e de atualização contínua; 
  • reduzir o tempo de transição entre empregos; 
  • aproximar currículos educacionais das demandas reais das empresas; 
  • criar mecanismos de apoio e orientação para pessoas com baixa escolaridade; 
  • integrar tecnologia e capacitação de forma planejada, evitando rupturas abruptas. 

Embora a análise utilize métricas individuais de rendimento, o relatório ressalta que o potencial macroeconômico dessas intervenções é ainda maior, com ganhos em produtividade, competitividade e inclusão. 

 

ARTIGOS RELACIONADOS

INSCREVA-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER SEMANAL

    AO INFORMAR MEUS DADOS, EU CONCORDO COM A POLÍTICA DE PRIVACIDADE E COM OS TERMOS DE USO

    PROMETEMOS NÃO UTILIZAR SUAS INFORMAÇÕES DE CONTATO PARA ENVIAR QUALQUER TIPO DE SPAM

    VOLTAR PARA A HOME