No dia 10 de janeiro de 2023, a determinação da Organização Mundial da Saúde que classifica o Burnout como doença ocupacional completou 1 ano. Mas de lá pra cá, quais foram os impactos desta mudança?
Para Marlene Capel, diretora da B2P, empresa especialista em gestão de afastados, é possível dizer que as organizações estão mais atentas em relação aos afastamentos por Burnout. Além disso, a determinação da OMS trouxe ainda mais relevância para os cuidados com a saúde mental dos colaboradores.
O Burnout em números
De acordo com levantamento da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, cerca de 30 milhões de brasileiros sofrem com o Burnout anualmente. Nove em cada 10 trabalhadores também admitem que o estresse afeta a qualidade do trabalho e sentem, consequentemente, suas realizações pessoais reduzidas.
“Em 2019, 72% dos funcionários sofriam alguma sequela de estresse, em diferentes níveis. Desses, 32% desenvolveram síndrome de burnout, o nível mais devastador do cansaço”, ressalta a pesquisa do ISMA-BR (International Stress Management Association).
Além desses índices, a carteira da B2P com 465 mil colaboradores em 16 empresas de todo o Brasil, mostra que o número de funcionários com burnout está em ascensão. Em 2019, este problema provocou 23 dias de ausência. No ano seguinte, quando se iniciou a pandemia de Covid, o número saltou para 902. Já em 2022, cerca de 1377 dias foram perdidos em decorrência de trabalhadores com exaustão emocional.
Segmentos com maior índice de esgotamento profissional
Outro dado importante revela as áreas em que mais são identificados casos de Burnout entre os trabalhadores. O levantamento, fornecido por Marlene Capel, aponta que os profissionais da saúde estão mais propensos a desenvolverem formas de cansaço mental.
• Hospitalidade – 80%
• Fabricação – 77%
• Cuidados com a saúde – 77%
• Educação – 76%
• Varejo – 75%
• Marketing – 70%
• Administração pública – 67%
• Serviços de TI e tecnologia – 64%
A pesquisa também transparece alguns dos índices mais preocupantes sobre o esgotamento profissional nas empresas:
• Atualmente, 25 em cada 30 organizações têm uma taxa de esgotamento dos funcionários de mais de 50%;
• Apenas 15% das companhias têm um nível de burnout abaixo de 50%;
• Um quarto dos funcionários experimenta burnout no trabalho com muita frequência ou sempre;
• Quase 50% dos trabalhadores experimentam burnout às vezes;
• Sete em cada 10 funcionários se sentiram esgotados em 2022.
“O Burnout se apresenta como uma síndrome geracional”
Segundo a diretora da B2P, a recente publicação indica que boa parte dos casos de burnout acomete profissionais da Geração Millennial (nascidos entre 1981 e 1995). Cerca de 59% dos indivíduos deste grupo estão mais inclinados a apresentarem sintomas da síndrome.
Em contraste, os Baby Boomers (pessoas com nascimento entre 1945 e 1964) são os trabalhadores menos prováveis a passarem pelo esgotamento.
“Acredito que a inconstância gera muita ansiedade e cobrança. Essa necessidade de estar sempre em movimento profissional, com muita informação ao seu redor, seja de trabalho ou de vida pessoal, leva a um quadro de cansaço muito mais rápido”, explica Marlene.
Quais foram os avanços um ano após a classificação da OMS?
Ainda é cedo para associar a classificação do burnout pela OMS com mudanças nas políticas de saúde mental das empresas. De acordo com os índices, o principal ganho até o momento foi de estabelecer limites que antes eram difíceis de definir.
“Diagnosticar o burnout é diferente de aferir outras doenças, como a diabetes, pois ele é muito subjetivo e multifatorial. Ou seja, varia de pessoa pra pessoa, de empresa para empresa e de segmento para segmento”, explica Marlene.
Já em termos jurídicos, as organizações passaram a ser responsabilizadas pelo adoecimento mental de seus colaboradores. Sendo assim, os funcionários têm direito à licença médica remunerada, afastamento ou até mesmo aposentadoria por invalidez em casos mais graves de esgotamento.
Maturidade para lidar com o Burnout nas corporações
Segundo especialistas, as empresas diferem bastante em relação às ações de saúde mental. Apenas as organizações mais maduras já possuem políticas relacionadas ao burnout. Isso inclui orientações práticas e planos de ação voltados ao tema.
Com isso, se faz necessária uma conduta preditiva por parte das companhias. Dessa forma, é possível focar na saúde e não na doença. Em outras palavras, o trabalho de detecção e prevenção do burnout nas empresas deve vir antes do adoecimento de fato, para que os índices de afastamentos e dias de ausência sejam reduzidos.
Vale lembrar que o cansaço mental está se tornando cada vez mais comum, revela a pesquisa de Marlene Capel. O estudo mostra um aumento entre 5% e 9% ano a ano nas taxas de esgotamento profissional em empresas de todo o Brasil. Caso as organizações não tomem consciência sobre o assunto, é possível que no futuro tenhamos uma epidemia de Burnout.