A pandemia mostrou que os efeitos econômicos das doenças mentais e dos distúrbios comportamentais são significativos. Estima-se que até 2030 os custos diretos e indiretos da saúde mental sejam superiores a US$ 6 trilhões anuais, de acordo com o relatório Global Health Care Outlook, produzido pela consultoria Deloitte. Esse valor é maior do que o custo do câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas combinados.
As agências de saúde pública já haviam alertado que uma onda de doenças mentais está no horizonte devido às restrições induzidas pela covid-19, mortes de entes queridos e crises financeiras que começaram em 2020.
No entanto, embora a pandemia tenha colocado a saúde mental e comportamental nas agendas políticas, sociais e corporativas, o relatório avalia que existem obstáculos importantes para normalizar os cuidados da mente e das emoções:
- a doença mental ainda é estigmatizada;
- escassez de profissionais especializados, como psiquiatras e psicólogos;
- poucos recursos para o financiamento dos cuidados de saúde mental em comparação com a saúde física.
Tecnologias digitais
Para ajudar a sanar essas questões, além de uma maior alfabetização em saúde para a compreensão de que a doença mental é uma doença como qualquer outra, a Deloitte propõe alavancar soluções digitais para estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos eficazes.
“A adoção de abordagens digitais para cuidados de saúde mental pode se tornar uma ferramenta essencial. Aplicativos acessíveis podem ser usados em conjunto com a terapia tradicional ou como plataforma para fornecer suporte síncrono ou assíncrono de um terapeuta de saúde mental”, avalia.
A consultoria enfatiza que essa solução deve ser utilizada com base em evidências e cita como exemplo ferramentas de apoio online à saúde mental nas quais os usuários podem conversar com seu médico de atenção primária; programas de autoajuda para pessoas com depressão leve a moderada, ansiedade e estresse; e aplicativos de condicionamento mental projetados para desenvolver resiliência e bem-estar.
Papel dos empregadores
As discussões em torno do papel das empresas no apoio à saúde mental e ao bem-estar no local de trabalho também estão crescendo. As doenças mentais afetam a saúde geral dos indivíduos, sua capacidade de trabalhar produtivamente, seus relacionamentos e os custos relacionados ao desemprego, à saúde e assistência social.
Porém, enquanto mais organizações estão revisando atividades e desenvolvendo estratégias em torno da saúde dos funcionários, muitas enfrentam desafios para concretizar os programas propostos. Segundo o relatório, estes incluem:
- uma falha em ver a saúde mental dos funcionários como prioridade em relação a outras demandas operacionais;
- abordagem reativa para implementar políticas de saúde mental e bem-estar em vez de focar na prevenção;
- falta de entendimento sobre como a empresa atua neste espaço;
- uma base de evidências deficiente para medir o retorno sobre o investimento (ROI) dos programas; e
- escassez de exemplos de boas práticas para promover melhorias.
Como forma de enfrentar esses obstáculos, a Deloitte recomenda que os líderes reflitam sobre como podem criar um local de trabalho que contribua para a obtenção de boa saúde mental e bem-estar para seus funcionários. Isso significa avaliar as causas subjacentes do estresse no ambiente profissional (como cultura prejudicial, baixos níveis de autonomia, linhas de denúncia complicadas, bullying, assédio sexual etc.).
Além disso, é necessário pensar de que maneira os dados organizacionais podem ser aproveitados para apoiar a identificação precoce de problemas potenciais, com o objetivo de permitir respostas em tempo real (como acompanhamento de planilhas de horas extras e longos períodos de absenteísmo).
“Ter acesso a dados que podem ajudar a indicar onde as coisas podem estar dando errado será essencial para informar a resposta mais apropriada no local de trabalho, especialmente quando vinculada a estratégias que buscam atingir as causas subjacentes antes que elas ocorram”, conclui o relatório.