O sistema de saúde nacional sofre cada vez mais por priorizar o atendimento emergencial e especializado em vez da prevenção e acompanhamento contínuo dos pacientes. Muitos falam em crise e, outros, em uma falência anunciada pela má gestão. Hoje, a mudança é mais do que necessária, é urgente.
O Brasil vive uma situação de grandes transformações, que sinalizam uma perspectiva de gastos crescentes com a saúde. Em primeiro lugar, há uma mudança epidemiológica. O país precisa lidar com novas doenças como a Covid-19, que já fez milhares de vítimas. Além disto, doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes e hipertensão, já atingem mais da metade dos brasileiros e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são responsáveis por quase 74% da mortalidade na população no país.
Outra transformação é a demográfica, representada pelo aumento da longevidade e, com ela, a crescente demanda por cuidados de saúde. Por fim, nossa época de grande inovação tecnológica propiciou a redução da letalidade de doenças infecciosas e o aumento da expectativa de vida, porém, a custos sempre crescentes.
As principais portas de entrada no nosso atual modelo para todos esses problemas de saúde são o pronto-socorro ou consultório de especialistas, opções de alto custo de atendimento e de procedimentos, como exames laboratoriais e de imagem, muitas vezes sem uma real necessidade. A aceleração no índice dos procedimentos de internação e exames devido à alta demanda por materiais e medicamentos foi justamente o principal fator que explica a variação do VCMH de 27,7% entre setembro de 2020 e 2021.
O modelo atual da saúde foi estabelecido há décadas e, hoje, não atende as demandas de uma sociedade que está envelhecendo e sofrendo cada vez mais com doenças crônicas. Diante desse cenário, temos um sistema de saúde de alto custo e baixa eficiência. Assim sendo, a solução é mudar o foco do imediatismo para o cuidado contínuo, que preza pela velha e boa prevenção.
Nós, como sociedade, não nos conscientizamos ainda da urgência deste problema
Somos todos interessados – pessoas e empresas – em ter um bom e sustentável sistema de saúde. O primeiro passo é incentivar o modelo de atenção primária. Prática comum em países como Cuba, Canadá e Reino Unido, onde para marcar consulta com especialista é preciso, antes, passar por um clínico geral, um médico que pode resolver até 90% dos casos. Melhor ainda se a pessoa tiver um médico de confiança, que acompanhe seu histórico e cuide da sua saúde em vez de apenas tratar as doenças.
Operadoras de saúde que defendem a atenção primária em detrimento do pronto-socorro ou atendimento especializado, incentivando a adoção de um clínico geral de referência, que direcione a pessoa ao especialista quando necessário, apontam uma redução de 32% do número de internações e 15% das reintegrações.
Mas o conceito mais importante para implementar um modelo de saúde sustentável é estimular a consciência do autocuidado, de que todas as pessoas são responsáveis e devem promover ativamente sua saúde. Esse é o desafio dos próximos anos se quisermos recuperar o equilíbrio entre gastos e bem-estar da população, tanto no sistema público, quanto no privado.