Inflação médica bate recorde

05 de junho de 2017

Um dos indicadores mais importantes do setor de saúde, o Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH), utilizado como referência do comportamento de custos de saúde, registrou alta de 19,4% em 2016, a maior variação desde o início do das medições pelo Instituto de Pesquisas de Saúde Suplementar (IESS) em 2007.

O índice não acompanha a queda de beneficiários nos planos médicos, que foi de 1,5 milhão no último ano. Porém, dois fatores importantíssimos que influenciam diretamente na sua elevação são o aumento nos valores dos procedimentos e no número de atendimentos médicos realizados no mesmo período – um salto de 1026 milhões de exames e consultas em 2015, para 1218 milhões em 2016. São dados que evidenciam o crescimento da procura por acesso à medicina e, eventualmente, um potencial aumento no desperdício do setor.

Nos últimos dias a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou o reajuste dos planos individuais e familiares em 13,55%, acima da inflação econômica (IPCA), que de setembro de 2015 a setembro de 2016 indicou 8,5%. Porém, ambos valores estão abaixo do VCMH referente ao mesmo período, o que põe em risco a sustentabilidade do setor.

Hoje, as operadoras de saúde trabalham com margens de lucro perigosamente baixas. O valor médio de mensalidade de um plano médico em 2016 era de R$ 201,63. De cada R$ 100, R$ 86,17 são gastos assistenciais com serviços médicos, R$ 11,23 são destinados para o pagamento de despesas administrativas, somente R$ 2,60 ficam de resultado.

Por que tão alto?

O aumento do VCMH decorre de diversos fatores dentro da complexa cadeia de valor que é a saúde suplementar. Entre eles os principais são:

Modelo de pagamento: a conta aberta dos prestadores, chamada de “fee for service”, acaba absorvendo todos os custos, inclusive desperdícios e falhas assistenciais, um comportamento avesso à eficiência;

Falta de transparência: não existem indicadores de desempenho que meçam a qualidade da assistência e justifiquem a precificação. Isso abre brechas para fraudes no sistema;

Envelhecimento: o aumento da expectativa de vida e prevalência de doenças crônicas aumentam as demandas assistências;

Tecnologia: adoção novos procedimentos e excesso da realização de exames sem os devidos critérios de eficácia médica;

Todos esses fatores estão levando a saúde suplementar rumo ao colapso. O modelo seguido pelo mercado é antigo, nele corretoras, operadoras, prestadores de serviço e os próprios usuários sofrem pressões constantes de todos os lados. A sustentabilidade do setor depende de uma agenda comum com o objetivo de promover mudanças positivas e alterar o já defasado modus operandi do sistema.

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