O ransomware segue como uma das maiores ameaças cibernéticas do mundo e, em 2024, o Brasil se tornou um dos principais alvos globais. Os números recentes mostram o impacto crescente da atividade criminosa, ao mesmo tempo em que reforçam a necessidade de estratégias de mitigação e transferência de riscos.
O cenário global do ransomware
De acordo com pesquisas internacionais, 49% das organizações afirmaram não pagar resgates em ataques de ransomware por considerarem os dados comprometidos não críticos. Esse dado evidencia que, embora muitos ataques não resultem em pagamento, o impacto operacional e reputacional segue elevado.
Botnets como Mirai e GorillaBot continuam explorando vulnerabilidades, enquanto grupos especializados — como o .Medusa — ampliam sua atuação com campanhas direcionadas e alto nível de sofisticação.
A realidade brasileira em números
No Brasil, o panorama é igualmente preocupante:
- Foram registradas 390 mil tentativas de ataque em 2024.
- Somente no último trimestre do ano, ocorreram 39.339 tentativas em outubro e 39.276 em dezembro.
- O país foi o 9º mais afetado globalmente, com 128 empresas vítimas de ransomware, sendo disparado o principal alvo da América Latina.
Os principais setores atacados foram: finanças, indústrias, saúde, governo, serviços e varejo. Neste último, casos recentes envolveram ataques do grupo .Medusa, que obteve acesso a dados sensíveis e ameaçou vazar informações caso o resgate não fosse pago.
Esses episódios expuseram a vulnerabilidade de grandes operações de varejo no país, altamente dependentes de sistemas digitais para logística, estoque e relacionamento com clientes.
Essas falhas foram amplamente utilizadas em campanhas maliciosas, aproveitando brechas em softwares corporativos para instalar ransomware e comprometer redes inteiras.
Contexto latino-americano
O Brasil lidera a lista de países da América Latina mais atingidos por ransomware. Em comparação, Chile, México e Colômbia aparecem em posições muito inferiores no ranking global. Esse protagonismo negativo decorre da amplitude do mercado brasileiro, do volume de dados corporativos e da digitalização acelerada de serviços, que ampliam a superfície de ataque.
Impactos financeiros e reputacionais
Segundo o Relatório de Custo de Violação de Dados da IBM, o custo médio de um ataque de ransomware pode superar US$ 4,5 milhões, somando pagamento de resgate, perda de receita, paralisação de operações e danos à reputação.
No Brasil, esses valores variam conforme o setor, mas empresas de saúde e finanças figuram entre as que sofrem os maiores prejuízos devido à criticidade de seus dados. Além dos custos diretos, há impactos indiretos: perda de confiança de clientes, questionamentos de investidores e riscos regulatórios, como multas por falhas de segurança e descumprimento da LGPD.
Riscos regulatórios e pressão legal
Além das perdas financeiras, os ataques de ransomware expõem empresas brasileiras a riscos regulatórios crescentes. A LGPD prevê multas que podem chegar a 2% do faturamento anual da organização em caso de falhas de segurança que resultem em vazamento de informações pessoais.
Setores regulados, como finanças e saúde, também enfrentam exigências específicas de órgãos fiscalizadores, que incluem planos formais de resposta a incidentes. Esse ambiente aumenta a pressão sobre gestores de risco e reforça a relevância do seguro cibernético como instrumento não apenas de proteção patrimonial, mas também de compliance.
O papel do seguro cyber
Diante desse cenário, o seguro cyber ganha relevância como instrumento de transferência de risco. Mais do que cobertura financeira, a apólice oferece coberturas estratégicas:
- Custos de resposta a incidentes: investigação, contenção e recuperação de sistemas.
- Indenização por paralisação de operações: compensação por perda de receita durante o downtime.
- Danos a terceiros: proteção contra ações judiciais de clientes e parceiros prejudicados pelo vazamento ou indisponibilidade de dados.
- Gestão de crise e imagem: apoio especializado em comunicação e reputação após o ataque.
- Negociação em casos de ransomware: suporte legal e técnico em situações de extorsão digital.
Para empresas brasileiras, especialmente em setores críticos e de grande exposição como o varejo, a contratação de seguro cyber já não é diferencial competitivo, mas necessidade.
Boas práticas de prevenção
Embora o seguro cyber ofereça proteção financeira, a prevenção continua sendo essencial. Entre as medidas recomendadas estão:
- Atualização constante de sistemas e correção de vulnerabilidades conhecidas.
- Treinamento de colaboradores para identificar tentativas de phishing.
- Adoção de autenticação multifator em sistemas críticos.
- Backups frequentes e armazenados em ambientes isolados.
- Testes de resposta a incidentes para avaliar a capacidade de reação da organização.
O Brasil encerrou 2024 como o principal alvo de ransomware na América Latina e o nono no ranking global, em um cenário marcado pela sofisticação de grupos como o .Medusa e pela exploração massiva de vulnerabilidades críticas. Os números reforçam um alerta: a ameaça não é pontual, mas parte de uma tendência estrutural que pressiona empresas de todos os portes e setores.
Com ataques cada vez mais frequentes e de alto impacto, especialistas apontam que prevenção e seguro cyber não devem ser vistos como custos, mas como investimentos indispensáveis para a continuidade dos negócios. A capacidade de reação pode definir não apenas a sobrevivência de empresas no curto prazo, mas também sua credibilidade no longo prazo.