A intensificação dos eventos climáticos como secas prolongadas, chuvas excessivas e geadas fora de época tem elevado o grau de incerteza na produção rural. Nesse contexto, o seguro paramétrico se destaca como uma das soluções mais eficazes do agronegócio moderno, ao unir tecnologia, dados e previsibilidade financeira.
Diferentemente dos seguros tradicionais, que dependem de perícias e comprovação direta de perdas, o modelo paramétrico se baseia em indicadores objetivos — como temperatura, precipitação ou velocidade do vento — monitorados por satélites, sensores e estações meteorológicas automáticas.
De acordo com a Allied Market Research, o mercado global de seguro paramétrico agrícola movimentou US$ 5,9 bilhões em 2023 e deve atingir US$ 11,3 bilhões até 2033, com crescimento médio anual de 6,5%.
Como funciona o seguro paramétrico
No seguro tradicional, a indenização é liberada após a avaliação presencial e comprovação de perdas, ou seja, um processo mais lento e sujeito a variações. O seguro paramétrico, por sua vez, utiliza gatilhos automáticos estabelecidos em contrato.
Por exemplo, se o volume de chuva em uma determinada área ficar abaixo de 50 mm durante o período crítico de cultivo, o sistema reconhece automaticamente o evento e aciona o pagamento ao segurado.
Essa estrutura proporciona vantagens significativas:
- Agilidade nas indenizações, eliminando etapas burocráticas;
- Transparência, com base em dados públicos e verificáveis;
- Redução de custos operacionais e de risco moral;
- Maior previsibilidade financeira para produtores e seguradoras.
Tecnologia e precisão: a base do modelo
A eficácia do seguro paramétrico depende da qualidade e confiabilidade das fontes de dados.
Atualmente, satélites de alta resolução e redes de estações meteorológicas automatizadas (EMAs) permitem o monitoramento contínuo das condições climáticas com elevado grau de precisão.
Pesquisas publicadas na revista Natural Hazards and Earth System Sciences demonstram que índices de vegetação obtidos por satélite, como o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), apresentam correlação de até 90% com perdas reais de safra, validando a eficiência dos modelos baseados em sensoriamento remoto.
Com o apoio de inteligência artificial e machine learning, essas plataformas transformam grandes volumes de dados em indicadores de risco agrícola de alta precisão.
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Benefícios para produtores e seguradoras
O modelo paramétrico moderniza a gestão de risco agrícola ao garantir liquidez imediata em eventos climáticos adversos, permitindo que o produtor mantenha suas operações sem interrupções.
Para seguradoras e resseguradoras, oferece menor incerteza, processos automatizados e maior eficiência, resultando em um produto mais sustentável e competitivo.
Segundo a Research Nester,o mercado global de seguros paramétricos, incluindo segmentos não agrícolas, deve crescer de US$ 18,9 bilhões em 2025 para US$ 47,8 bilhões em 2035, com taxa anual de 9,7%.
Seguro paramétrico e ESG: risco, transparência e sustentabilidade
A adoção de seguros paramétricos está diretamente alinhada aos princípios ESG. Ao oferecer proteção financeira ágil e baseada em dados, o modelo contribui para:
- Reduzir a vulnerabilidade social e econômica de pequenos e médios produtores;
- Incentivar práticas sustentáveis, por meio do planejamento mais eficiente e do uso racional de recursos;
- Fortalecer a resiliência climática das cadeias produtivas.
Entre 2001 e 2022, eventos climáticos extremos resultaram em US$ 118,7 bilhões em indenizações agrícolas,representando 73% de todos os pagamentos do setor, segundo a Arbol.io.
A integração de satélites, sensores e inteligência de dados está redefinindo a forma como o agronegócio se protege. Empresas e produtores que adotam esse modelo passam a operar com maior segurança, eficiência e competitividade, fortalecendo o futuro do agronegócio em um ambiente cada vez mais desafiador.


