A transformação digital acelerou exponencialmente a criação, o uso e o compartilhamento de dados nas organizações. Em paralelo, ampliou um risco silencioso para a segurança da informação: o crescimento do shadow data.
Diferentemente dos ataques cibernéticos tradicionais, esse risco não se origina apenas de ameaças externas, mas da falta de visibilidade interna, que amplia a superfície de ataque e dificulta a detecção e a resposta a incidentes.
O que é shadow data e por que ele se tornou um risco
Shadow data refere-se a todo dado corporativo que existe fora dos sistemas oficialmente gerenciados pela empresa. Não se trata, necessariamente, de informações ocultas, mas de dados que circulam fora da governança institucional – sem classificação, monitoramento ou controles claros de acesso, retenção e descarte.
Quando a organização não sabe exatamente onde seus dados estão, também não consegue dimensionar onde está exposta.
Na prática, esse cenário é impulsionado pela busca por agilidade e produtividade. Arquivos armazenados em contas pessoais de nuvem, documentos compartilhados por canais não homologados, backups informais em dispositivos físicos e planilhas locais com dados sensíveis são exemplos recorrentes.
O risco não está apenas na localização dessas informações, mas na ausência de rastreabilidade sobre quem pode acessá-las, copiá-las ou reutilizá-las.
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IA generativa e a ampliação da exposição
A adoção acelerada de ferramentas de IA generativa (ChatGPT, Copilot, Gemini etc.) adiciona uma nova camada de complexidade ao problema. Quando não há diretrizes claras, colaboradores passam a inserir relatórios internos, contratos, dados financeiros ou informações de clientes em plataformas públicas para análise ou apoio à decisão.
Nesse processo, o dado sai do ambiente controlado da organização e passa a circular em ecossistemas externos, frequentemente sem garantias contratuais, políticas de retenção ou governança adequada.
Esse movimento contribui diretamente para o crescimento do shadow data e amplia riscos regulatórios, operacionais e reputacionais, especialmente em setores altamente regulados ou intensivos em dados sensíveis.
O custo real da falta de controle de dados
Dados de mercado indicam que o custo médio de uma violação de dados permanece elevado, especialmente quando envolve vetores difíceis de detectar.
Incidentes associados a pishing , credenciais comprometidas e insiders figuram entre os mais onerosos, com custos médios próximos ou superiores a US$ 4,8 milhões por ocorrência. Esses vetores exploram, justamente, falhas na gestão de dados, identidades e acessos – um ambiente típico onde o shadow data prospera.
Tempo de resposta como fator crítico
O impacto de um incidente cibernético não depende apenas do tipo de ataque, mas, sobretudo, do tempo necessário para identificá-lo e contê-lo.
Casos envolvendo credenciais roubadas ou engenharia social apresentam, em média, quase 300 dias entre a invasão inicial e a contenção, período em que o atacante permanece ativo no ambiente corporativo.
Quando informações sensíveis estão dispersas em plataformas não homologadas ou ambientes mal configurados, esse intervalo tende a se alongar, ampliando perdas financeiras, exposição regulatória e impacto reputacional.
Segurança da informação como decisão estratégica
O avanço do shadow data reforça que a cibersegurança passou a ocupar um lugar central na estratégia de negócio. Hoje, trata-se de uma decisão que impacta diretamente a continuidade operacional, o compliance e o valor da organização.
Nesse contexto, a pergunta-chave já não é se um incidente vai ocorrer, mas quando – e quão preparada a empresa estará para responder com velocidade, coordenação e resiliência.
Organizações que equilibram inovação, controle e cultura digital conseguem reduzir a superfície de ataque, acelerar respostas e mitigar o custo total de uma violação. Em um ambiente cada vez mais orientado por dados, proteger a informação é proteger o próprio negócio.


