A forte oscilação do câmbio em 2024–2025 colocou a gestão de risco no topo das prioridades financeiras das empresas que operam com moedas estrangeiras. Para proteger margens, liquidez e previsibilidade de caixa, companhias de todos os portes têm recorrido com mais intensidade a instrumentos de hedge (de swaps cambiais e NDFs a contratos a termo) e a ajustes de governança para monitorar exposição.
Cenário que explica a pressa
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O real registrou desvalorizações expressivas nos últimos 12–18 meses: relatórios do FMI apontaram uma depreciação de cerca de 20% contra o dólar em 2024, enquanto apurações de mercado e reportagens jornalísticas registraram movimentos ainda mais agudos em pontos do ano (variações superiores a 25%–27% em determinados períodos), pressionando fluxo de caixa e balanços.
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A saída líquida de dólares do Brasil em 2024 atingiu níveis relevantes (notícias de janeiro de 2025 citam US$ 18,01 bilhões de saída líquida no ano), ampliando a volatilidade e a percepção de risco cambial entre tesourarias corporativas.
Por que hedge virou necessidade operacional
Oscilações bruscas de câmbio podem: (i) aumentar custos de importação; (ii) agravar o montante de dívida denominada em moeda estrangeira; (iii) reduzir margens de exportadores que não conseguem repassar variação; e (iv) provocar perdas contábeis repentinas. Para mitigar esses riscos, o mercado recorre a instrumentos que permitem transformar incerteza em compromisso de custo ou ganho previsível.
Instrumentos e evidências de uso crescente
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Swap cambial: contrato que troca risco de variação cambial por um fluxo em reais (ou por desconto/juros em outra referência). O Banco Central e manuais técnicos definem swaps como ferramentas para troca de riscos e estabilização de preços/curvas. Swaps exigem estrutura operacional e custos contratuais, mas oferecem proteção robusta para exposições de médio/longo prazo.
ㅤㅤ - NDF (Non-Deliverable Forward): permite travar uma taxa para uma data futura, liquidada por diferença (sem entrega física da moeda). É muito usado quando a entrega da moeda é complexa ou restrita. Estudos e papers sobre mercados OTC no Brasil mostram que BRL–USD domina esse segmento, evidenciando liquidez concentrada nesses contratos.
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Contratos simples (câmbio a termo, trava cambial): alternativas com menor complexidade para exposições pontuais ou empresas com menor capacidade operacional.
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Evidência macro de maior uso de derivativos: estatísticas internacionais de derivativos OTC indicaram crescimento no uso de contratos FX (swaps e forwards) no primeiro semestre de 2024, refletindo maior atividade de hedge global e regional. Isso sinaliza uma demanda crescente por proteção cambial entre agentes econômicos.
Dados reforçam a importância prática
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Depreciações amplas do câmbio em 2024 implicaram em impactos reais de caixa e necessidade de realocação de capital: relatórios oficiais e de mercado apontam que uma parcela importante da volatilidade do real no período se traduziu em pressões sobre empresas com passivos em moeda estrangeira. Juristas e tesourarias citam a combinação de variação cambial e fluxo de saída de capitais como gatilho para reavaliação de políticas de hedge.
ㅤㅤ - Organismos multilaterais e bancos de desenvolvimento (IFC, World Bank) recomendam soluções de local-currency financing e derivativos como forma de reduzir risco cambial em projetos e balanços, reforçando que a ausência de hedge adequado pode elevar custo de capital e risco de solvência em cenários extremos.
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- Mapeamento de exposição: identificar receitas, custos e dívidas expostas por moeda, prazo e volatilidade esperada.
ㅤㅤ - Política formal de hedge: definir objetivos (fixar custo, reduzir volatilidade, proteção parcial), limites, contraparte(s) permitida(s) e critérios de contabilização (IFRS/BR GAAP).
ㅤㅤ - Escolha de instrumento por perfil: swaps para exposições estruturais; NDF para travas sem entregue física; termo/trava para compromissos pontuais.
ㅤㅤ - Custos e governança: avaliar custo total (prêmio, margem, requisitos de garantia), implementar aprovação de níveis e monitoramento diário.
ㅤㅤ - Documentação e compliance: manter contratos, confirmações, testes de estresse e memória de negociação organizados (reduz litígios e falhas de controle).
ㅤㅤ - Integração seguro + derivativo: combinar soluções securitárias (linhas financeiras, seguros para transações) para cobrir lacunas não financeiras (continuidade operacional, responsabilidade).
Riscos e pontos de atenção
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Risco de contraparte e liquidez: NDFs e OTC carregam risco de crédito da contraparte; exigir cláusulas de margem e seleção rigorosa de contrapartes.
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Complexidade e custo operacional: swaps e estruturas sofisticadas demandam tesouraria qualificada e controles.
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Risco contábil: tratamentos contábeis para hedges (por exemplo, hedge accounting) requerem documentação prévia e testes de eficiência.
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Por que agir agora
Em um ambiente em que a moeda local sofreu variações expressivas e fluxos financeiros internacionais continuam voláteis, a proteção cambial virou componente central da governança financeira.
A combinação de dados macro (depreciação, saída de dólares) e evidência de aumento no uso de derivativos mostra que empresas que formalizam políticas de hedge e integram soluções financeiras e securitárias conseguem maior previsibilidade, menor custo de capital e menos risco de perda de valor por choques cambiais.
Para tesourarias e CFOs, a pergunta deixou de ser “se” e passou a ser “como” e “quanto” proteger.


