O seguro de RC Riscos Ambientais teve uma redução de 37,5% nos prêmios diretos nos cinco primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados registrados na Susep.
A queda ocorre depois do que foi considerado o maior desastre ambiental do país, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015. O evento chamou atenção para problemas de gerenciamento de riscos e para a falta de seguros que cubram danos ambientais de maneira mais ampla no país.
Este ano, o RC Ambiental apresentou até o fim de maio a terceira maior queda entre 38 seguros corporativos levantados por Risco Seguro Brasil. Apenas os seguros de Satélites (-83,9%, uma carteira de R$ 8,8 milhões) e Riscos de Engenharia (-41,4%, para R$ 283 milhões) caíram mais.
Casos catastróficos costumam aumentar a procura por proteção nas demais empresas, num movimento que o senso comum no mundo dos seguros atribui ao efeito motivador causado pelas tragédias alheias.
Por outro lado, grandes sinistros também costumam gerar maior seletividade e rigor na hora de fechar os contratos, já que as seguradoras sempre trabalham para manter suas carteiras saudáveis — ainda que restrições possam não atingir todos os setores econômicos da mesma maneira.
Análise
Gustavo Lopes, gerente de Responsabilidade Civil e especialista em riscos ambientais da AON, considera que cinco meses é um período muito curto para avaliar o comportamento do mercado. Segundo ele, houve um “aumento significativo” no número de consultas para o seguro ambiental na corretora este ano. “A sociedade em geral tem se preocupado cada vez mais com o tema meio ambiente”, afirma.
De acordo com Lopes, a redução pode estar relacionada às características das apólices. “Normalmente, nesses ramos as apólices são contratadas com vigência anual, porém existem aquelas que se destinam a atender projetos específicos e não são necessariamente renovadas”, diz. “Outras, mesmo renováveis, podem ter vigência de 18 ou 24 meses ou ainda serem plurianuais, fazendo com que a análise fria dos números em um período curto traga algumas distorções.”
Paulo Baptista, diretor da corretora It’sSeg, por sua vez, lembra que a carteira de RC Riscos Ambientais ainda é muito pequena no Brasil (veja os números abaixo). Em decorrência disso, uma eventual não renovação de algum seguro grande pode afetar o balanço geral do segmento como um todo.
Seleção de risco
A política de subscrição das seguradoras não sofreu nenhuma “mudança drástica”, de acordo com o executivo da AON. “O que percebemos foi apenas um aumento no rigor com relação à qualidade do risco que as seguradoras estão aceitando em suas carteiras, bem como na qualidade das informações apresentadas para contratação das apólices”, afirma Lopes.
Segundo ele, os prêmios praticados não sofreram alteração nos setores não relacionados a mineração, mas “os potenciais compradores de seguros para riscos ambientais precisam evidenciar de maneira mais clara e objetiva que possuem conhecimento amplo de sua atividade, bem como os riscos inerentes”.
De acordo com Baptista, o gerenciamento de riscos ambientais nas empresas é justamente um dos pontos críticos na área. Ele diz que é comum que companhias do mesmo setor e porte similares apresentem condições muito distintas nessa área. “As empresas brasileiras ainda tem um caminho a percorrer para terem maior controle e gestão dos seus riscos ambientais, não só para atender as obrigações legais, mas para prevenir riscos e danos.”
Vista longa
De qualquer forma e apesar de uma série de casos graves registrados no país nos últimos anos, o crescimento de RC Riscos Ambientais vem patinando no país.
O crescimento nos prêmios diretos comparando 2011 com 2015 foi de 134%. Houve um salto de 84%, entre de 2011 e 2012, e depois disso as altas foram bem menores.
Em 2013 o incremento dos prêmios foi de 12,5% sobre o ano anterior, mais que o dobro da inflação (IPCA Geral, do IBGE, de 5,9%). Em 2014, a alta perdeu fôlego, ficou em 8%, ainda acima dos 6,4% do IPCA. Já em 2015 os prêmios cresceram 4,5% em relação ao ano anterior, desempenho sensivelmente abaixo da inflação de 10,6% do ano.
Concentrado
Em 2016, o volume total de prêmios diretos entre janeiro e fim de maio bateu em R$ 18,3 milhões, contra R$ 29,3 milhões no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Susep. Cinco seguradoras — AIG, Nova Chubb, HDI, Mapfre e Tokio Marine — são responsáveis por 96% do resultado, com outras cinco (AXA, Excelsior, Liberty, Travelers e XL) completando o setor. O desempenho foi desigual no grupo majoritário do mercado.
A AIG, que no ano passado liderou com folga a carteira nos cinco primeiros meses, teve uma redução de 81% nos prêmios diretos. Mapfre e HDI, por sua vez, viram seus prêmios caírem 18% e 11%, respectivamente. Enquanto isso, Nova Chubb (reunindo Chubb e Ace) apresentou um incremento de 77% e Tokio Marine, de 7,2% — sempre segundo os dados registrados na Susep.
Futuro promissor
Lopes e Baptista, entretanto, estão confiantes no desenvolvimento deste segmento no país. O gerente da AON espera que ao longo do ano o grande volume de consultas feitas até agora se transforme em apólices concretas de seguro. “As perspectivas são muito boas.” Segundo ele, houve 100% de renovação nesse ramo na corretora este ano.Baptista reforça que casos como o da Samarco têm efeito pedagógico real no restante das empresas.
“Certamente a indústria de mineração está muito mais preocupada em analisar melhor sua situação”, diz. Segundo ele, as cobranças nas empresas em geral, após catástrofes, são muito maiores e feitas por um grupo cada vez mais amplo de envolvidos com a companhia (investidores, acionistas, sociedade em geral). “As próprias instituições financeiras querem conhecer [a situação da empresa] para liberar empréstimos”, afirma. “A pressão fica maior para que ela tenha critérios mais rigorosos.”
Fonte: Risco Seguro Brasil / https://riscosegurobrasil.com/materia/pos-samarco-premios-do-rc-ambiental-caem-375-este-ano/