A omissão e a falta de proteção resultam em vazamento de dados, paralisações operacionais, danos à reputação e prejuízos financeiros, que, em alguns casos, pode até comprometer a sobrevivência do negócio.
Mas por que tantas empresas continuam vulneráveis mesmo diante de estatísticas tão claras?
Empresas expostas: quando a omissão se torna um risco estratégico
Uma pesquisa divulgada pelo Opice Blum Advogados aponta que 79% das empresas brasileiras estão expostas a ataques cibernéticos, muitas sem qualquer estrutura mínima de proteção. Mesmo assim, o nível de investimento em cibersegurança permanece abaixo do esperado.
Ainda na mesma pesquisa, três em cada quatro empresas não contam com seguro cibernético, essa ausência pode comprometer toda a operação.
A falta de preparo não se limita à tecnologia. Em muitas empresas, a responsabilidade pela segurança digital é negligenciada, sem liderança clara ou algum plano de resposta a incidentes e é nesse vácuo organizacional que as vulnerabilidades se acumulam.
A maioria dos executivos mantém a crença do “não vai acontecer comigo”, até que o primeiro ataque mostre o custo dessa ilusão.
Imagem e valor de mercado em jogo
O impacto de um ciberataque vai muito além da perda de dados ou da paralização de sistemas. A confiança dos clientes, investidores e parceiros pode ser abalada em questão de horas. De acordo com recentes pesquisas, crises reputacionais causadas por falhas de segurança podem reduzir o valor de mercado de em até 27%.
Além disso, os custos de resposta a incidentes estão em alta. Empresas vítimas de ataques enfrentam despesas com consultorias técnicas, multas regulatórias, ações judiciais e investimentos emergenciais em segurança.
Muitas vezes, a ausência de um plano prévio de gestão de riscos transforma o incidente em uma escalada incontrolável de danos financeiros e institucionais.
A nova geração de ameaças: inteligência artificial como arma dos ataques cibernéticos
Os ataques cibernéticos estão cada vez mais sofisticados e, agora, também automatizados. Com o avanço da inteligência artificial generativa, cibercriminosos têm desenvolvido métodos mais rápidos, personalizados e difíceis de detectar.
Pesquisas recentes apontam o crescimento dos chamados deepfakes, phishing por voz sintética e tentativas de engenharia social conduzidas por bots inteligentes. A combinação entre IA e vazamento de dados expande exponencialmente a capacidade de manipulação e invasão.
O “Relatório de Inteligência de Ameaças 2025: Identidade Remota sob Ataque”, da iProov alerta para o aumento de ataques que exploram identidade remota e autenticações digitais — pontos críticos em modelos de trabalho híbrido e remoto. Esses golpes, muitas vezes silenciosos e altamente direcionados, se aproveitam de brechas em processos e da ausência de autenticações multifator eficazes.
A consequência é um ambiente corporativo ainda mais frágil, onde a tecnologia virou aliada tanto da inovação quanto do crime digital.
O limbo da cibersegurança: quando ninguém assume o risco
Em muitas organizações, a cibersegurança ainda é tratada como um tema exclusivamente técnico e não como uma questão estratégica. Isso cria um “limbo institucional”, onde nenhuma área se responsabiliza integralmente pela prevenção, a resposta e continuidade de negócios diante de um incidente digital.
Enquanto setores de TI tentam agir com recursos ilimitados, as lideranças corporativas frequentemente subestimam a complexidade dos riscos ou evitam investir por desconhecimento.
Essa desconexão se torna perigosa: sem governança clara, orçamento adequado e engajamento da alta gestão, a empresa parece vulnerável, mesmo que possua ferramentas tecnológicas. Em última instância, a segurança cibernética depende de decisões humanas, processos bem definidos e cultura voltada à prevenção.
O papel da ANPD e a pressão da LGPD
Diante da escalada de ataques cibernéticos, a legislação brasileira tem avançado para exigir mais responsabilidades das empresas. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) já prevê penalidades severas para o vazamento de informações pessoais, o que inclui não apenas os dados de clientes, mas também de funcionários, fornecedores e parceiros.
Em abril de 2024, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) publicou a Resolução nº 15, que detalha procedimentos para a comunicação de incidentes de segurança. A norma exige que empresas notifiquem prontamente as autoridades e os titulares afetados, além de manterem registro e evidências das falhas ocorridas.
Esse movimento sinaliza uma virada: o tempo da impunidade digital está acabando e ignorar a proteção de dados deixou de ser apenas um risco operacional — agora é também um passivo jurídico relevante.
Seguro cibernético: proteção ignorada por 75% das empresas
Mesmo diante de um cenário repleto de ameaças, três em cada quatro empresas ainda não contrataram seguro cibernético. O dado revela mais do que uma questão financeira, ele nos mostra um problema de maturidade organizacional. Em muitos casos, as empresas desconhecem as coberturas disponíveis, subestimam os ricos e acreditam que o TI interno será suficiente para conter danos.
Além disso, há mitos que ainda persistem: a ideia de que o seguro é caro demais, burocráticos ou “só serve para grandes corporações”. Na prática, o mercado tem evoluído com modelos flexíveis e personalizáveis, que incluem desde cobertura de resgates por ransomware até serviços de resposta a incidentes, forense digital e comunicação de crise.
A ausência desse tipo de proteção revela uma visão de curto prazo, na qual o custo de contratar parece maior do que reparar. Até que a realidade prove o contrário.
O que o mundo já entendeu (e o Brasil ainda hesita) sobre ataques cibernéticos
Durante a RSA Conference 2025, um dos maiores eventos globais sobre cibersegurança, especialistas reforçaram a necessidade urgente de integrar segurança digital à estratégia de negócio. As discussões não giraram mais de “se” ataques ocorrerão, mas quando e como reagir com agilidade. Entre os destaques estavam o uso de inteligência artificial para a defesa ativa, planos de resiliência corporativa e a importância de simular incidentes reais, algo que ainda é raro nas empresas brasileiras.
Enquanto isso, no Brasil, muitos setores ainda enxergam a cibersegurança como um custo isolado de TI, sem envolvimento direto da alta liderança. O resultado é um atraso perigoso frente às tendências globais. O tempo da reação está se esgotando e a preparação precisa começar agora.
Os primeiros passos para sair da zona de risco
Proteger a sua empresa contra ciberataques não exige grandes revoluções tecnológicas, mas sim decisões conscientes e estruturadas. Algumas medidas fundamentais para começar a sair da zona de vulnerabilidade:
- Mapeie os ativos digitais mais críticos (sistemas, dados, acessos).
- Implemente autenticação multifator (MFA) em todas as áreas sensíveis.
- Realize simulações de ataque (pentest ou phishing controlado) para identificar brechas reais.
- Capacite líderes e colaboradores sobre boas práticas de segurança e resposta a incidentes.
- Crie um plano de contingência com backups, responsabilidades, fornecedores de resposta rápida.
- Contrate um seguro cibernético com cobertura alinhada ao seu perfil de risco.
- Monitoramento constante, a cibersegurança não é evento, é processo contínuo.
A cibersegurança deixou de ser uma preocupação restrita ao universo da tecnologia — ela se tornou um indicador direto de resiliência empresarial. Em um cenário onde as ameaças evoluem mais rápido que as defesas, insistir na inércia é assumir um risco silencioso, porém crescente.
Enquanto o mundo avança em proteção digital com inteligência, planejamento e antecipação, parte significativa das empresas brasileiras ainda opera no escuro, espero que nada aconteça. Mas a conta está chegando — e não virá apenas em bytes, mas em reputação, valor e sobrevivência.