A pandemia deixou ainda mais evidente a importância estratégica da saúde dos colaboradores para a produtividade e competitividade dos negócios. As pessoas valorizam o salário, claro, mas também buscam trabalhar num lugar em que possam manter seu bem-estar físico e emocional. E as empresas podem fazer isso tanto por meio de uma cultura saudável quanto por programas de promoção de saúde.
Ocorre que, quando se trata de iniciativas de apoio à saúde dos colaboradores, estamos falando de mudanças comportamentais para abandonar hábitos nocivos e reverter o aparecimento de doenças. Isso significa que o resultado dessas ações dificilmente será visto de imediato, mas, sim, num futuro próximo.
Então, como justificar esses investimentos para a alta liderança?
Embora muitas ações contribuam para o clima organizacional, nem sempre elas são eficazes. De acordo com o superintendente médico de gestão de saúde da It’sSeg, Danilo Nakandakare, ter um programa de sucesso irá depender de oito mãos: as duas primeiras vêm do capital intelectual da própria consultoria de gestão de saúde, com o planejamento e execução do programa.
A outra parte dessa responsabilidade está nas mãos da empresa, através de suas políticas e campanhas de engajamento aos colaboradores. Em terceiro vem a operadora de saúde, incumbida pelo monitoramento dessa população e do bom direcionamento da rede assistencial. E, por fim, temos o colaborador – que precisa querer e estar pronto para mudar seus hábitos.
Com a atuação dessas quatro frentes, há uma grande chance de melhorar o cenário da saúde corporativa. Mas desde que as ações façam sentido para o contexto da empresa.
O primeiro passo a ser dado pela consultoria é a elaboração de um estudo preliminar para analisar os indicadores.
“Para direcionar melhor os investimentos, precisamos identificar o impacto financeiro e na saúde dos colaboradores que os programas podem gerar”, diz Danilo. “Por essa razão, fazemos um estudo da base de utilização do plano de saúde para mergulhar nos indicadores. A empresa pode ter um programa de gestantes, mas o seu maior ofensor nos custos são as doenças crônicas, por exemplo. Então, qual é a relevância disso?”.
Outra maneira de conseguir indicadores é com o mapeamento da saúde. Os colaboradores respondem a um questionário sobre seu histórico de saúde e estilo de vida. Alguns podem não se sentir à vontade para compartilhar essas informações, com receio de que o mapeamento seja um mecanismo punitivo. Mas o intuito não é este. Ninguém é identificado, o RH só tem acesso aos percentuais. A intenção é conhecer os pontos críticos de saúde daquela população e, com base neles, dar norte às ações.
O estudo preliminar junto com o mapeamento irão garantir que os programas façam sentido para aquele grupo – tendo, assim, mais propensão de engajar as pessoas.
O trabalho é grande e demanda dedicação de todos os envolvidos. É liderado pelo RH, mas deve engajar toda a empresa. O ideal é que se forme um comitê de qualidade de vida e envolva as lideranças para definir, conforme o que apontam os estudos, qual será o foco das ações e suas metas, para só assim lançar o programa.
Estipulados os indicadores e estruturadas as ações, é possível comparar os resultados antes e depois do programa. “Supondo que um indicador do programa de crônicos seja a frequência de utilização dos serviços de saúde. Eu vou mensurar essa taxa e enxergar se houve reflexo disso. Onde? Principalmente na sinistralidade do plano”, explica Danilo.
Uma vez que houve reflexo na sinistralidade, como avaliar se o resultado realmente ocorreu por causa do programa?
“Então, durante determinado período, vamos comparar o comportamento deste grupo monitorado com ele mesmo e com a população não monitorada (que não participa do programa). Também podemos fazer um benchmark com empresas do mesmo setor. A partir disso, obtemos o custo evitado com a utilização do plano. Dessa forma, a economia gerada pelas estratégias de medicina preventiva torna-se mais clara.”, continua.
Como a frequência de uso e gravidade da assistência médica impactam diretamente o reajuste dos planos coletivos, a tendência é que a empresa consiga uma correção de valor menor na renovação do benefício.
Outras demonstrações da efetividade dos programas de promoção de saúde são: menor índice de absenteísmo e de afastamento, com a consequente redução do FAP. O presenteísmo também pode mensurado, embora seja mais complexo.
Não há uma receita pronta para a construção da estratégia de gestão de saúde, por isso, ela começa pela definição dos indicadores e metas de cada empresa. Fato é que uma gestão mais proativa, na qual os programas de promoção à saúde são considerados uma ferramenta para alcançar resultados perenes, é um dos caminhos mais eficazes para a redução de custos.