O primeiro caso de covid-19 foi registrado, no Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020. Após mais de um ano de pandemia, é normal sentir que ela tem deixado todo mundo exausto. Porque está. A gravidade e escala da doença, desde então, pediram a adoção de medidas de segurança com impactos relevantes em nosso cotidiano.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu esse fenômeno, chamado “fadiga pandêmica”. Seu início é gradual, definido como um estado de desmotivação para seguir os comportamentos de proteção recomendados e, aos poucos, afeta uma série de emoções, incluindo a percepção de risco relacionado a covid-19.
Essa reação, segundo especialistas, é natural e até esperada em uma crise de saúde pública prolongada. Porém, pode tornar as pessoas vulneráveis ao estresse e a certos transtornos, como ansiedade e depressão, devido à falta de perspectiva e planejamento.
Com isso, campanhas que anteriormente eram eficazes sobre lavar as mãos, usar máscaras faciais, praticar a etiqueta de higiene adequada e distanciamento físico podem começar a parecer insuficientes e, portanto, precisam de uma nova abordagem. Pensando nisso, a OMS propôs quatro estratégias principais, baseadas em evidências, para revigorar o apoio aos comportamentos de proteção. Continue a leitura e saiba mais!
O que está por trás da fadiga pandêmica
A pandemia impôs uma necessidade urgente de adaptação em todo o mundo, e com frequência nos expõe a diversas situações de sobrecarga emocional. Por isso, a sensação de esgotamento é comum. Mas a causa deve ser investigada, sobretudo quando gera sintomas como: cansaço diário, distúrbios do sono, sentimentos de tristeza e culpa, angústia, dores musculares, dor de cabeça e irritabilidade.
A OMS explica que, no início de uma crise, a maioria das pessoas é capaz de se adaptar, mental e fisicamente, para sobreviver em situações estressantes intensas, mas por um curto período. Quando essas circunstâncias se estendem, é preciso adotar uma nova forma de enfrentamento – e o resultado pode ser fadiga e desmotivação.
São vários os fatores que podem levar à fadiga pandêmica. Por exemplo, o isolamento, a forte vigilância contra o vírus, falta de perspectivas, o tédio, entre outros. Sendo assim, é preciso conhecer as origens e mais do que nunca incentivar a prevenção, que para além das medidas de segurança, deve abranger o autocuidado.
Quatro estratégias para superar a fadiga pandêmica
1. Entenda as pessoas. Como explicamos, a desmotivação resulta de diversos aspectos, incluindo ambientais e culturais. Por essa razão, exige também diferentes tipos de suporte. A primeira estratégia é, portanto, entender quem são as pessoas que estão passando pela fadiga pandêmica. Ao compreender o perfil e os motivos que afetam a capacidade ou disposição de adotar comportamentos de proteção é possível, desta forma, segmentar e adaptar ações e campanhas às necessidades específicas, levando a uma comunicação mais bem-sucedida.
Falando da comunicação em particular, muitas pessoas já conhecem e sabem a importância das medidas de proteção. Lembre-se que a pandemia de covid-19 provocou, também, uma “infodemia” – ou seja, um grande fluxo de informações se espalhou rapidamente na internet e gerou dúvidas sobre quais fontes são confiáveis. Por essas razões, menos pode ser mais. A OMS indica que, além de ser sempre baseada em evidências, a comunicação deve ser dirigida a grupos chave.
2. Envolva as pessoas como parte da solução. Acima de tudo, o estímulo ao autocuidado deve dar às pessoas a sensação de que os comportamentos recomendados são parte de algo positivo, esperançoso e (se possível) divertido. O ser humano tem uma necessidade essencial de se sentir no controle da própria vida e, quando essa autonomia é ameaçada, a motivação se perde facilmente.
Assim, em vez de focar naqueles que não adotam medidas de segurança, destacar as pessoas que as seguem pode ser mais eficaz, bem como os ganhos de saúde pública alcançados por meio do esforço coletivo, como sugere a OMS.
3. Reduza o risco. A desmotivação relatada entre algumas pessoas é, em parte, uma reação à longevidade da pandemia. Embora as primeiras intervenções de emergência, como a quarentena, tenham evitado um maior alcance do vírus, as estratégias de longo prazo precisam permitir o retorno a algo que se assemelha à vida normal.
Com isso em mente, a OMS aconselha uma abordagem de redução de danos que incentiva um espectro de comportamentos aceitáveis. Por exemplo, no contexto atual, as pessoas que são mais propensas a desistir facilmente das medidas de segurança podem voltar a se aglomerar em grandes festas, porque não ser social passou a parecer insustentável. Então, embora a socialização em pequenos grupos não seja 100% ideal, é preferível a uma explosão de atividades em grandes grupos.
4. Reconheça e lide com as dificuldades que as pessoas vivenciam. É de amplo conhecimento que a pandemia e suas restrições tiveram impacto negativo no bem-estar e na saúde mental de muitos. Pesquisas comportamentais frequentemente mostram, por exemplo, que menos pessoas têm uma alta percepção de risco relacionado ao próprio vírus, e que mais pessoas indicam estresse causado por preocupações relacionadas à resposta à pandemia, como trabalhar em casa.
Sob tais circunstâncias, se os problemas vivenciados não forem bem compreendidos, reconhecidos e tratados, as pessoas podem perder a motivação e as iniciativas não terão sucesso. A fadiga, neste caso, pode ser enfrentada com a construção de resiliência e o alívio de dificuldades onde e quando possível, inclusive por meio do apoio emocional e social.
Por fim, vale ressaltar que essas quatro estratégias devem ser aplicadas com base na situação epidemiológica local, além de considerar circunstâncias sociais e econômicas para garantir que ninguém seja deixado para trás.