O trigo está entre os principais cereais de inverno produzidos no Brasil, junto com a aveia branca e a cevada. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, lançado pelo IBGE em julho, a estimativa da produção do trigo para 2022 se aproxima de 9 milhões de toneladas, um aumento de 13,6% em relação a 2021, com o rendimento médio alcançando 3.131 kg/ha.
A região Sul deve responder por 90,6% da produção tritícola nacional em 2022. No Paraná, maior produtor nacional de trigo, com participação de 43,7% no total, a produção foi estimada em 3,9 milhões de toneladas, crescimento de 20,8% em relação a 2021. Caso essa produção se confirme, ainda dependendo de uma boa condição climática durante o desenvolvimento vegetativo no campo, o Brasil deverá colher sua maior safra de trigo da história.
O consumo de trigo no país, em 2022, é estimado entre 12 e 13 milhões de toneladas. Já as exportações giram em torno de 1 milhão de toneladas neste ano. Portanto, a necessidade de importação será de 4 a 5 milhões de toneladas.
Desafios da produção
Os números otimistas de produção podem ser reduzidos na hipótese de danos ocorridos, por exemplo, na colheita e pós-colheita do grão. Quando falamos em danos com a planta ainda em campo, levamos em conta principalmente geadas em fases mais suscetíveis da cultura como floração e enchimento de grãos.
A colheita que esteve parada no início de agosto em algumas regiões por conta da chuva, já foi retomada e seguiu durante o mês de setembro principalmente no norte e oeste do Paraná. Em algumas regiões pontuais, o produtor segue ainda com temor de geadas ocasionadas por frentes frias inesperadas.
Como boa parte da produção está no sul do Brasil, uma grande preocupação ao longo de todo o ciclo da cultura é em relação às frentes frias e geadas que podem ocasionar perdas significativas na produção, principalmente se a lavoura estiver em fases de floração e enchimento de grãos.
Atingir os mais de 9 milhões de toneladas na produção de trigo no Brasil, representa positivo suprimento do mercado interno e menor necessidade de importação, visto que o Brasil ainda é altamente dependente da importação deste cereal. Por isso, é extremamente importante reduzir as perdas de trigo em todas as fases da cultura, incluindo a colheita e pós-colheita. Após uma safra inteira de manejo e dedicação para produzir bem, o produtor precisa estar seguro de que vai entregar o melhor trigo possível ao mercado consumidor e garantir a rentabilidade do seu negócio.
Outro gargalo que o produtor ainda enfrenta no Brasil é a falta de políticas de compra e armazenamento do trigo. Além disso, o transporte rodoviário é muito oneroso para sair do sul do país e chegar às regiões mais distantes. Por isso, muitos agricultores preferem exportar o excedente do que redistribuí-lo pelo Brasil.
Todo este cenário nos mostra que o trigo possui altíssima qualidade (evidenciado inclusive em um estudo recente feito pela Embrapa Trigo), mas o produtor precisa de mais segurança do mercado para poder investir na produção. É o que alguns moinhos privados têm começado a fazer subsidiando uma parte da produção nacional deste cereal com garantia de compra após a colheita.
E quando falamos sobre segurança para o produtor de trigo, outro aspecto que devemos levar em conta é a possibilidade da contratação do seguro agrícola. O seguro pode garantir cobertura no caso de sinistros como geadas, enchentes ou outras ocorrências que ocasionem problemas na produção.
Perdas na colheita e pós-colheita
Quando falamos sobre as perdas durante a safra, vale lembrar que muitos são os fatores que ocasionam perdas no processo de colheita e pós-colheita de uma cultura. Entretanto, a observação de alguns fatores possibilita a redução dessas perdas.
Na cultura do trigo, assim como em outros cereais, é muito importante buscar formas mais eficientes para realizar as diferentes etapas durante a condução da lavoura.
A seguir, listamos alguns pontos importantes no processo de colheita e pós-colheita do trigo:
1. Umidade ideal do grão
A colheita do grão de trigo com umidade acima ou abaixo da ideal (que flutua em torno dos 16%) pode gerar grandes problemas quantitativos e qualitativos. Muitas vezes, a colheita antecipada acontece pela necessidade do produtor retirar o cereal do campo para semear outra cultura como a soja; ou por condições climáticas adversas como chuvas e longos períodos de umidade relativa do ar, que atrapalham a secagem do grão ainda em campo.
Uma vez colhido muito úmido (acima de 18% de umidade), o grão pode ser esmagado pela colhedora, gerando perda de peso e qualidade; redução no potencial de armazenamento; aumento de custo para secagem antes do armazenamento; ou ainda maior desconto na entrega à moega. Por outro lado, quando o grão está muito seco, pode ocorrer a quebra dos grãos.
Ambas as situações geram perda na qualidade que, no caso do trigo, influencia diretamente na remuneração ao produtor, a depender da classificação dos grãos.
2. Condições ambientais para colheita
Em muitas regiões, o momento de colheita do trigo coincide com alta incidência de chuvas que pode até impossibilitar a entrada das máquinas na lavoura. Em muitos casos, o excesso de umidade ainda ocasiona a germinação dos grãos ainda na planta, ocasionando perdas significativas.
Além do excesso de chuvas, o déficit hídrico nesta fase pré-colheita também pode ser um problema, uma vez que a umidade muito baixa (inferior a 13%) pode ocasionar o debulhamento natural ainda na planta.
3. Condições do maquinário
Manter as colheitadeiras com a manutenção em dia e a regulagem certa para a colheita do trigo é um cuidado básico que o produtor precisa para não perder tempo com máquinas paradas em pleno pico da colheita. Além do atraso de todas as operações seguintes, um problema inesperado com um equipamento pode ocasionar sucessivos problemas como debulhamento, acamamento das plantas, perda de umidade de forma excessiva e muitos outros problemas que afetam diretamente na qualidade e classificação do grão.
4. Velocidade de colheita
Por mais que seja negligenciado na prática, o fator “velocidade de colheita” é extremamente importante para o controle das perdas na fase final da cultura. É preciso estar atento a diversos mecanismos da colhedora, condições do terreno e outros aspectos que influenciam diretamente na velocidade da colheita.
5. Condições de armazenamento
Após colhido, algumas condições podem interferir na manutenção da qualidade do grão ao longo do armazenamento. E destes pontos podemos destacar: umidade relativa do ar; temperatura; danos mecânicos ocasionados no processo de colheita e transporte; além do controle de insetos, roedores e microrganismos.
Fato é que estes são apenas alguns pontos que merecem atenção na condução da lavoura do trigo, uma vez que a remuneração do produtor no caso deste cereal está diretamente relacionada à qualidade do grão colhido, o que reforça a necessidade de atenção aos fatores que afetam a qualidade do produto final.
E é sempre bom lembrar que, no que diz respeito a imprevistos e intempéries climáticas, a contratação do seguro agrícola é uma excelente ferramenta que leva ao produtor a segurança que ele precisa para conduzir uma safra de forma mais tranquila. Afinal, reduzir perdas e contratar o seguro agrícola são duas estratégias que fazem parte do ajuste do processo produtivo rumo às altas produtividades.