Nos últimos anos, observamos uma intensificação de conflitos geopolíticos, que têm redesenhado tanto o mercado de seguros quanto a estratégia de continuidade dos negócios. O cenário global passou a exigir das organizações não apenas uma gestão tradicional de riscos, mas um programa integrado, capaz de antecipar movimentos, proteger ativos e garantir resiliência.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, as tensões entre China, Estados Unidos e Taiwan, conflitos no Oriente Médio e, mais recentemente, as medidas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil, demonstram como fatores políticos impactam o comércio, a estabilidade das cadeias de suprimento e a precificação dos seguros.
As consequências têm sido visíveis: exclusões de coberturas de guerra, aumento de custos logísticos devido à necessidade de rotas alternativas, ataques cibernéticos patrocinados por Estados e restrições a exportações brasileiras, com efeito imediato em seguros de crédito, transporte e garantias.
As tarifas adicionais sobre produtos brasileiros são também um exemplo da vulnerabilidade do agronegócio a riscos políticos e comerciais. Os efeitos para o setor e para o mercado de seguros podem incluir: contratos rescindidos sem cobertura securitária, aumento da inadimplência e judicialização, estoques não escoados e oscilações cambiais, que exigem revisão constante de valores em risco em apólices patrimoniais e de transporte.
Conflitos Geopolíticos: Cinco Frentes de Proteção
Nossa experiência mostra que empresas resilientes são aquelas que estruturam sua gestão de riscos em múltiplas camadas de proteção. Destaco cinco frentes essenciais:
1. Monitoramento e Inteligência
- Acompanhamento contínuo de tensões políticas, sanções e conflitos, integrado à matriz de riscos corporativa.
- Equipes especializadas em geopolítica devem ter prioridade semelhante à de áreas como tecnologia e mudanças climáticas.
2. Gestão Integrada da Cadeia de Suprimentos
- Diversificação de fornecedores e mercados, rotas alternativas e manutenção de estoques críticos.
- A análise deve contemplar riscos rotineiros e riscos excepcionais, reduzindo a dependência de regiões sensíveis.
3. Coberturas Específicas e Estruturadas
- Seguros de guerra e risco político para operações internacionais.
- Apólices paramétricas para eventos climáticos extremos.
- Seguros cibernéticos revisados, atentos às exclusões relacionadas a ataques patrocinados por Estados.
4. Cibersegurança e Proteção de Dados
- Fortalecimento de defesas digitais, protocolos de resposta a incidentes e treinamentos internos.
- Reconhecer que muitas apólices não cobrem “guerra cibernética” exige ampliar os investimentos em prevenção.
5. Cultura de Resiliência e Continuidade
- Protocolos interdepartamentais de resposta a crises, planos de continuidade de negócios e exercícios de simulação.
- Métricas como time to recover (TTR) devem ser monitoradas de forma recorrente.
A essas cinco frentes soma-se um eixo transversal de Compliance e ESG, indispensável para acesso a mercados internacionais e para a preservação da reputação corporativa.
Gestão de Riscos precisa estar na agenda do Conselho
Riscos políticos e comerciais sempre estiveram presentes. O que muda é a necessidade de evoluir do reativo para uma gestão de riscos proativa, guiada pela liderança e fortalecida por informações confiáveis.
A transferência de risco via seguro segue essencial, mas não é suficiente. A verdadeira resiliência nasce da combinação de monitoramento contínuo, diversificação estratégica, coberturas estruturadas e cultura organizacional preparada para reagir com rapidez e precisão.
Como corretores e especialistas em riscos, nosso papel é apoiar empresas na revisão de suas matrizes de risco, na negociação adequada de coberturas e na construção de planos robustos de continuidade. O futuro não será menos turbulento, mas as organizações preparadas terão uma clara vantagem.

› Por
KARINA ANDRADE
vice-presidente de riscos corporativos na Acrisure Brasil