Conflitos Geopolíticos e o Redesenho da Gestão de Riscos

25 de agosto de 2025

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Nos últimos anos, observamos uma intensificação de conflitos geopolíticos, que têm redesenhado tanto o mercado de seguros quanto a estratégia de continuidade dos negócios. O cenário global passou a exigir das organizações não apenas uma gestão tradicional de riscos, mas um programa integrado, capaz de antecipar movimentos, proteger ativos e garantir resiliência. 

A guerra entre Rússia e Ucrânia, as tensões entre China, Estados Unidos e Taiwan, conflitos no Oriente Médio e, mais recentemente, as medidas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil, demonstram como fatores políticos impactam o comércio, a estabilidade das cadeias de suprimento e a precificação dos seguros.  

As consequências têm sido visíveis: exclusões de coberturas de guerra, aumento de custos logísticos devido à necessidade de rotas alternativas, ataques cibernéticos patrocinados por Estados e restrições a exportações brasileiras, com efeito imediato em seguros de crédito, transporte e garantias.  

As tarifas adicionais sobre produtos brasileiros são também um exemplo da vulnerabilidade do agronegócio a riscos políticos e comerciais. Os efeitos para o setor e para o mercado de seguros podem incluir: contratos rescindidos sem cobertura securitária, aumento da inadimplência e judicialização, estoques não escoados e oscilações cambiais, que exigem revisão constante de valores em risco em apólices patrimoniais e de transporte. 

Conflitos Geopolíticos: Cinco Frentes de Proteção  

Nossa experiência mostra que empresas resilientes são aquelas que estruturam sua gestão de riscos em múltiplas camadas de proteção. Destaco cinco frentes essenciais: 

1. Monitoramento e Inteligência  

  • Acompanhamento contínuo de tensões políticas, sanções e conflitos, integrado à matriz de riscos corporativa. 
  • Equipes especializadas em geopolítica devem ter prioridade semelhante à de áreas como tecnologia e mudanças climáticas. 

2. Gestão Integrada da Cadeia de Suprimentos 

  • Diversificação de fornecedores e mercados, rotas alternativas e manutenção de estoques críticos. 
  • A análise deve contemplar riscos rotineiros e riscos excepcionais, reduzindo a dependência de regiões sensíveis. 

3. Coberturas Específicas e Estruturadas 

  • Seguros de guerra e risco político para operações internacionais. 
  • Apólices paramétricas para eventos climáticos extremos. 
  • Seguros cibernéticos revisados, atentos às exclusões relacionadas a ataques patrocinados por Estados. 

4. Cibersegurança e Proteção de Dados 

  • Fortalecimento de defesas digitais, protocolos de resposta a incidentes e treinamentos internos. 
  • Reconhecer que muitas apólices não cobrem “guerra cibernética” exige ampliar os investimentos em prevenção. 

5. Cultura de Resiliência e Continuidade 

  • Protocolos interdepartamentais de resposta a crises, planos de continuidade de negócios e exercícios de simulação. 
  • Métricas como time to recover (TTR) devem ser monitoradas de forma recorrente. 

A essas cinco frentes soma-se um eixo transversal de Compliance e ESG, indispensável para acesso a mercados internacionais e para a preservação da reputação corporativa. 

Gestão de Riscos precisa estar na agenda do Conselho

Riscos políticos e comerciais sempre estiveram presentes. O que muda é a necessidade de evoluir do reativo para uma gestão de riscos proativa, guiada pela liderança e fortalecida por informações confiáveis.

A transferência de risco via seguro segue essencial, mas não é suficiente. A verdadeira resiliência nasce da combinação de monitoramento contínuo, diversificação estratégica, coberturas estruturadas e cultura organizacional preparada para reagir com rapidez e precisão.

Como corretores e especialistas em riscos, nosso papel é apoiar empresas na revisão de suas matrizes de risco, na negociação adequada de coberturas e na construção de planos robustos de continuidade. O futuro não será menos turbulento, mas as organizações preparadas terão uma clara vantagem. 

› Por

KARINA ANDRADE
vice-presidente de riscos corporativos na Acrisure Brasil

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