Na última projeção realizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e Sociedade, da Escola de Clima de Columbia (IRI/Columbia), as condições do Oceano Pacífico continuam sob influência do fenômeno La Niña. E existe um consenso entre os diferentes centros de monitoramento e previsão do clima ao redor do mundo. O Escritório de Meteorologia Australiano (BOM) também indica fortes condições para a manutenção do fenômeno, bem como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA/EUA).
O que chama atenção neste episódio de La Niña é sua extensão e os momentos em que as águas mais frias ressurgem das profundezas para a superfície do oceano, na região de monitoramento.
Eventos de El Niño e La Niña tendem a se desenvolver durante o período de abril a junho, atingindo sua força máxima durante outubro-fevereir. Em geral persistem por 9 a 12 meses, embora ocasionalmente persistam por até 2 anos.
A situação atual começou entre julho e agosto de 2020 e se arrasta até o momento, com alguns períodos de normalidade, mas que não refletiram de forma expressiva nas condições climáticas sobre o país.
O que esperar do clima nos próximos meses?
As tendências e projeções mostram uma provável continuidade do La Niña durante todo o ano de 2022. E os principais efeitos deste fenômeno é o reflexo na distribuição das chuvas sobre o continente.
Tipicamente, em períodos de La Niña, existe uma diminuição significativa das chuvas sobre a parcela sul do Brasil, ao passo que elas seguem mais abundantes na metade norte. E é justamente este padrão o que os modelos climáticos mostram para os próximos três meses. A falta de chuvas será mais pronunciada na metade sul do país, com alta probabilidade de acontecer.
Contudo, o cenário em relação às culturas de inverno é incerto, principalmente em relação à falta de chuvas, que pode ser um fator limitante na produtividade final. Entretanto, a safra de trigo de 2021 teve a maior produção da história, mesmo com a ocorrência de geadas fortes e muitas regiões com estresse hídrico.
O fenômeno La Niña também muda o comportamento das temperaturas, a tendência é de registros abaixo da média na região sul e na faixa norte. E o que as projeções mostram para estes próximos meses não foge do que seria esperado.
O destaque será as temperaturas expressivamente acima da média histórica na parcela central do país. Esta condição pode agravar a situação hídrica em algumas áreas, visto que esta época do ano é o período seco no Brasil central. Portanto, mesmo com chuvas ocorrendo dentro do esperado (que é pouco), as condições indicam um favorecimento de grandes perdas de umidade para o ambiente.
“A primeira safra da soja e o milho já tem sido afetada por essa falta de água na região sul. As condições das lavouras já implantadas têm piorado nessas últimas semanas e o produtor está em alerta, principalmente com a indicação de manutenção do tempo seco”, disse Danyella Bonfim, assessora técnica da Confederação Nacional da Agricultura, em entrevista à CNN.
“Outro setor é a cana de açúcar, a probabilidade dessa estiagem atingir parte do centro-sul, que é a maior região produtora, também tem preocupado o setor. Para arroz e trigo, o La Niña não interfere tanto”, completou.
Podem ocorrer geadas fortes como em 2021?
A princípio, pelas projeções, as temperaturas ficam dentro ou levemente abaixo da média na região sul. Tipicamente, as geadas começam a ocorrer com maior frequência nesta época do ano.
Porém, entre o norte do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, as projeções apresentam perspectivas de temperaturas acima da média histórica. Então, neste momento, não são esperados episódios de geadas até o sul do Mato Grosso como no ano de 2021