Nos últimos anos, o cenário tradicional de trabalho tem passado por uma série de transformações impulsionadas pelo home office.
Fato é que, em alguns casos, o trabalho presencial é necessário ou até mesmo inevitável. Porém, para os trabalhadores que não desejam abrir mão da flexibilidade dos dias e horários, buscar outro emprego tem sido uma alternativa.
É o que mostra a 24ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), divulgado em junho deste ano. A pesquisa ouviu 1.161 profissionais em maio de 2023, divididos em 3 categorias: recrutadores, trabalhadores empregados e desempregados.
Segundo o relatório, o retorno 100% presencial levaria 38% dos colaboradores empregados no Brasil a buscar um novo emprego.
“O anseio por flexibilidade definitivamente veio para ficar e as empresas que contam com esse diferencial serão as mais desejadas, admiradas e reconhecidas pelos trabalhadores”, afirma Lucas Nogueira, diretor regional da Robert Half.
Lucas comenta também que “é cada vez mais evidente que a dificuldade de adaptação às transformações do mercado proporcionará barreiras no recrutamento de profissionais qualificados, além de obstáculos na retenção de talentos”.
Colaboradores priorizam home office ou trabalho híbrido; empresas, o presencial
Segundo o ICRH, 39% dos recrutadores entrevistados já estão vendo colaboradores buscarem um novo trabalho depois que a empresa decidiu pelo retorno presencial; 23% dos contratantes têm o receio de que isso possa acontecer no futuro.
> Como evitar desistências e atritos no trabalho presencial.
Entre os motivos para que isso ocorra, estão o tempo gasto no trânsito e o aumento das despesas com alimentação e combustível, como mostra o levantamento feito pela It’sSeg.
Por que as empresas preferem o presencial?
De acordo com o levantamento da Robert Half, três aspectos são levados em consideração pelas organizações ao optarem pelo modelo presencial:
1. Enfraquecimento da cultura organizacional;
2. Percepção de queda na produtividade de suas equipes;
3. Dificuldades com a gestão remota.
“Tanto as organizações quanto os funcionários precisam trabalhar em um consenso. Do lado das empresas, as companhias estão readequando o espaço de seus escritórios. Do lado do funcionário, se você quiser mudar de emprego, um novo desafio, a sua cabeça tem que abrir para a política da nova empresa, seja ela híbrido, seja presencial”, ressalta Lucas Nogueira.
O diretor da Robert Half conta que para manter os profissionais qualificados, as empresas precisam flexibilizar. “É possível entrar mais tarde ou ir ao cliente, por exemplo. Fato é que as organizações de serviços que não se adaptarem ao modelo híbrido perderão mão de obra qualificada. A briga por talentos continua”, diz.
Semana com 4 dias de trabalho também entra na disputa
Se a flexibilização dos modelos de trabalho já geravam dúvidas, outra realidade pode impactar os planos dos RHs. A jornada de trabalho com 4 dias tem sido adotada por empresas do exterior e, agora, ganha espaço no Brasil.
Entre junho e dezembro deste ano, será realizado um experimento com empresas brasileiras em parceria com a 4 Day Week, organização sem fins lucrativos que realiza testes globais sobre a carga horária reduzida. O objetivo é que essas corporações recebam uma mentoria a respeito de como conduzir suas equipes diante desse cenário.
No exterior, onde já existem dados que atestam a eficácia desse modelo de trabalho, reduzir a jornada parece ser uma faca de dois gumes: por um lado percebe-se o aumento da produtividade dos trabalhadores; por outro, existe a percepção de que existem mais demandas para serem feitas em um espaço de tempo menor.
Por isso, é fundamental que antes de colocar o modelo em prática, seja feita uma rodada teste.
“Precisamos redesenhar não apenas a semana, mas também a comunicação, tecnologia e processos. Organizamos reuniões, identificamos ferramentas eficientes e construímos novos caminhos para o trabalho em equipe. É um esforço colaborativo entre gerência e equipe para focar nas atividades mais importantes e impactantes”, explica Gabriela Brasil, diretora de comunidade na 4 Day Week Global em entrevista à Forbes.
Cabe às companhias avaliarem o cenário e chegarem a uma conclusão (adotar ou não o modelo) e se manter antenadas sobre as mudanças que a semana de 4 dias pode provocar na rotina corporativa.