A legalização parcial das apostas esportivas no Brasil abriu caminho para o crescimento desse mercado no País. Com plataformas visualmente atrativas e campanhas de marketing milionárias, os jogos de azar passaram a ser vistos como um atalho para melhorar a renda. Mas a promessa de ganho fácil esconde riscos silenciosos: os impactos na saúde financeira e mental.
No dia 18 de março, a It’sSeg promoveu um bate-papo para entender os reflexos das apostas no ambiente de trabalho. A conversa contou com a presença de Lara Siqueiros, psicóloga da It’sSeg – Acrisure; Wallace de Souza, coordenador de promoção à saúde; e Gui Casagrande, especialista em saúde financeira.
Durante o encontro, os profissionais trouxeram diferentes perspectivas sobre como esse fenômeno tem impactado o dia a dia das pessoas, especialmente no meio corporativo. A conversa abordou tanto os aspectos psicológicos quanto os financeiros, destacando sinais de alerta e a importância de ações preventivas por parte das empresas.
As apostas se adaptaram a nova forma de se comunicar
Além do desgaste emocional, as apostas podem comprometer relacionamentos interpessoais, gerar endividamento grave e influenciar negativamente a produtividade dos colaboradores.
“Os jogos de azar estão com uma nova roupagem, associados à felicidade e status social. Parece que vão ajudar o indivíduo a ter uma renda extra, mas isso aumenta o estresse financeiro quando a pessoa não tem retorno”, Lara explica.
O especialista em educação financeira, Gui Casagrande, alerta que, em 2024, o mercado de apostas movimentou cerca de R$240 bilhões no Brasil – dinheiro, muitas vezes, retirado do consumo básico, das contas mensais ou até de compromissos financeiros essenciais. “As pessoas acabam deixando de comprar roupas para apostar, mudam os hábitos dentro do mercado, deixam de pagar contas básicas”.
Esses comportamentos, embora possam ser ocultos, deixam sinais. Os profissionais alertam para alguns indicadores que podem revelar quando um colaborador está envolvido em jogos de azar:
- Picos de euforia ou ansiedade;
- Irritabilidade e frustração;
- Problemas de relacionamento interpessoal.
Do ponto de vista organizacional, os impactos são múltiplos: queda na produtividade, aumento do absenteísmo, pedido frequente de adiantamentos ou empréstimos, dificuldade de manter foco nas tarefas e riscos de fraudes internas.
Contudo, Lara reforça, “esses indícios podem ser também sintomas de outros problemas, tornando o vício em apostas difícil de ser identificado”.
Para lideranças e empresas: como agir diante de sinais de apostas
- Crie um espaço seguro e sem julgamento para a escuta;
- Encaminhe o colaborador para apoio psicológico ou programas de saúde da empresa;
- Evite punições precipitadas e foque na recuperação e no acolhimento;
- E, acima de tudo, fortaleça ações preventivas.
Algumas organizações já começaram a se movimentar, bloqueando o acesso a sites de apostas em suas redes internas. Oferecer conteúdo educativo sobre saúde financeira também é uma ótima opção. Palestras, aulas e cursos podem servir de base para aumentar o conhecimento dos colaboradores sobre as finanças e melhorar a relação com o dinheiro.
É necessário abrir espaços para bate-papos sobre saúde financeira e emocional, desmistificando o tabu que ainda existe em torno do dinheiro e das apostas.
“Vivemos em um modelo global onde o dinheiro é necessário para o básico da sobrevivência. Infelizmente, as pessoas não colocam a saúde financeira na caixinha da qualidade de vida”, reforçou Gui Casagrande.
Mais do que uma tendência preocupante, as apostas e jogos de azar revelam um sintoma de algo maior: o desejo de escapar de uma realidade financeira difícil e a falta de educação emocional e econômica para lidar com ela. Ao reconhecer esse cenário, as empresas têm a oportunidade — e a responsabilidade — de agir de forma preventiva e acolhedora.