Armazenamento de energia: inovação estratégica e novos desafios para a gestão de riscos

14 de outubro de 2025

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

O avanço das fontes renováveis, como a energia solar e eólica, transformou profundamente o setor elétrico. Se por um lado essas matrizes trouxeram ganhos ambientais e econômicos, por outro criaram camadas de risco, especialmente quanto à estabilidade e à previsibilidade do fornecimento.

Garantir energia contínua, mesmo em períodos de baixa geração, tornou-se essencial para a segurança energética global. Nesse contexto, o armazenamento de energia, com destaque para as baterias de alta capacidade, surge como uma das principais soluções para equilibrar o sistema e mitigar riscos operacionais.

Contudo, assim como em toda inovação, o avanço dessa tecnologia também introduz novas vulnerabilidades que precisam ser gerenciadas.

Armazenamento de energia: o papel na mitigação de riscos

O armazenamento de energia consiste em acumular eletricidade gerada em períodos de baixa demanda para uso posterior. Essa flexibilidade traz resiliência à rede elétrica e reduz a exposição a eventos críticos, como apagões ou flutuações de preço.

Entre as tecnologias disponíveis, as baterias de íon-lítio se destacam pela eficiência e rápida queda de custos. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a capacidade global de armazenamento em baterias atingiu 28 GW em 2022, um crescimento de 75% em relação a 2021. No cenário de neutralidade de carbono (“Net Zero”), esse número deve alcançar 970 GW até 2030.

No Brasil, a capacidade instalada de sistemas de armazenamento (BESS) chegou a 685 MWh em 2024, um avanço de 29% frente a 2023 – impulsionado pela integração de fontes renováveis e pela busca por maior estabilidade no fornecimento.

Como o armazenamento contribui para a segurança energética

Do ponto de vista da gestão de riscos, as baterias assumem um papel de estabilização e contingência, oferecendo flexibilidade, previsibilidade e eficiência operacional.

Estabilização da rede elétrica: as baterias atuam como “pulmões” do sistema, compensando oscilações de geração e consumo em tempo real. Essa capacidade reduz o risco de falhas e interrupções.

Gestão de picos e otimização de custos: ao armazenar energia em horários de baixa demanda e liberá-la nos picos, o sistema reduz sobrecarga e evita custos emergenciais.

Suporte às fontes intermitentes: em um cenário de alta dependência de energia solar e eólica, as baterias garantem continuidade e previsibilidade, reduzindo a exposição à volatilidade climática e à perda de receita por indisponibilidade.

Eficiência econômica e ambiental: o uso inteligente do armazenamento reduz a dependência de termelétricas, diminuindo custos e emissões. Essa previsibilidade de custos também melhora a modelagem de riscos corporativos.

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Os novos riscos do armazenamento em baterias

Apesar dos benefícios, o avanço do armazenamento em larga escala introduz novas fontes de risco que precisam ser compreendidas e mitigadas.

  1. Risco de segurança física e incêndio: As baterias de íon-lítio são sensíveis a variações térmicas e curtos-circuitos. Casos de superaquecimento, incêndios e explosões em unidades de armazenamento já foram registrados em diversos países, exigindo protocolos rígidos de monitoramento e manutenção.
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  2. Risco ambiental e de descarte: A produção e o descarte de baterias envolvem metais como lítio, cobalto e níquel, cuja extração e reciclagem apresentam desafios ambientais e sociais. Sem uma gestão adequada, o ciclo de vida do produto pode gerar impactos ambientais significativos.
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  3. Riscos regulatórios e de conformidade: O setor ainda carece de padronização normativa no Brasil. A ausência de regulamentações específicas sobre armazenamento, transporte e descarte de baterias cria incertezas legais e de responsabilidade civil.
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  4. Riscos financeiros e tecnológicos: Apesar da queda nos custos, o investimento inicial em sistemas de grande porte é elevado. A rápida evolução tecnológica pode tornar equipamentos obsoletos antes do retorno completo do investimento, exigindo planejamento financeiro e contratos flexíveis.

Transferência e mitigação de riscos operacionais

Diante desses desafios, a transferência do risco operacional se torna uma estratégia fundamental. Por meio de seguros e soluções de gestão integrada de riscos, é possível proteger o investimento e garantir a continuidade das operações.

Entre as abordagens mais relevantes estão:

  • Seguros patrimoniais e de responsabilidade civil: cobertura para danos materiais, incêndios, falhas de operação e prejuízos decorrentes de interrupções.
  • Gestão de riscos cibernéticos: sistemas de baterias conectados à rede elétrica dependem de softwares e IoT, tornando-se potenciais alvos de ataques cibernéticos.
  • Avaliação de riscos ambientais e sociais: análise de impactos ao longo do ciclo de vida das baterias, incluindo descarte, transporte e armazenamento.
  • Planos de continuidade e resposta a crises: protocolos preventivos e planos de contingência garantem rápida resposta em caso de falhas ou acidentes.

O futuro do armazenamento e da gestão de riscos energéticos

O mercado global de sistemas de baterias (BESS) deve crescer de US$ 10,1 bilhões em 2025 para US$ 86,8 bilhões até 2034, segundo projeções internacionais. Paralelamente, a IEA estima que o mercado total de baterias, somando veículos elétricos e aplicações estacionárias, possa alcançar US$ 500 bilhões até 2030.

Novas tecnologias, como baterias de estado sólido, de fluxo e armazenamento de hidrogênio, prometem reduzir custos e ampliar a segurança, mas também demandarão novas estruturas de gestão e transferência de risco.

À medida que o Brasil avança na transição energética, a capacidade de identificar, avaliar e transferir riscos associados a essa transformação será determinante para garantir um futuro energético seguro, eficiente e resiliente.

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