“Foi extremamente traumatizante”: É possível fazer uma demissão humanizada?

14 de junho de 2023

“Num dia desses cheguei em casa e meu marido disse que a empresa onde trabalho tinha me enviado uma cesta com bombons, um balão e uma carta. Logo pensei que seria uma promoção, aumento ou algo do tipo. Quando abri o envelope e li o recado, percebi que se tratava da minha própria demissão. Foi um episódio extremamente traumatizante”, escreve Aline Garcia em seu depoimento no LinkedIn.

Aline não é a única a relatar sua demissão na rede social, mas a experiência um tanto fora do comum chamou a atenção para um tema que está em alta no meio da gestão de pessoas: a “demissão humanizada”.

“Pensei que fosse uma reunião de alinhamento. Nos primeiros minutos da conversa, meu gestor deu a entender que tudo estava indo muito bem. Mas o clima durou pouco. Apesar de ele ter falado que a empresa prestaria assistência nos próximos dias, a notícia do meu desligamento caiu como uma bomba, pois não houve transparência alguma”, compartilhou outro usuário.

Atentas a essas questões, diversas empresas têm discutido como tornar o desligamento em um processo menos traumatizante e mais humanizado. No entanto, como demonstram inúmeras declarações nas redes sociais, muitas não têm obtido sucesso ao levar o conceito adiante.

 

Demissão humanizada é o atual centro das atenções

Recentemente, uma onda de demissões em massa atingiu uma série de empresas no Brasil. Como consequência disso, percebe-se um debate cada vez mais amplo sobre esse momento tão delicado para todo trabalhador.

Embora as notícias tragam dados e estatísticas sobre a quantidade de colaboradores desligados, é importante lembrar que por trás desses índices existem pessoas. Afinal, toda demissão acarreta em mudanças significativas na vida pessoal dos funcionários.

Além disso, receber a notícia da própria demissão geralmente provoca sentimentos negativos que podem gerar reflexos na saúde mental, como medo, baixo autoestima, insegurança e tristeza.

 

Demissão é sempre demissão

Com o tema em alta, diversos profissionais concordam que o termo “demissão humanizada” pode soar como uma tentativa de reduzir a responsabilidade da empresa, além de romantizar um momento difícil. Para fazer sentido, o desligamento deve ser feito com transparência.

Afinal, não é apenas o exato momento da demissão que conta para a experiência dos colaboradores, mas um conjunto de atitudes que podem anteceder o desligamento e justificar a decisão da empresa.

Em outras palavras, se a possibilidade da dispensa não estava clara antes, há grandes chances de a demissão gerar sentimentos de injustiça não só na pessoa demitida, mas também em toda a equipe da qual ela fazia parte – ainda que a notícia venha acompanhada de balões e chocolates.

 

Então, como fazer uma demissão humanizada?

Embora seja difícil, especialistas concordam que é possível diminuir os impactos negativos de uma demissão, tanto na pessoa desligada quanto no engajamento das organizações. Para isso, é preciso algumas mudanças nas práticas desse processo.

Mesmo que a demissão seja coletiva, ter consciência de que cada pessoa é única: Isso envolve colocar-se no lugar do outro, entender e respeitar os sentimentos despertados pela situação.

Sempre que possível, evitar demitir por telefone, mensagem ou videoconferência: Essa é uma das situações que a tecnologia não substitui o olho no olho. Além disso, a notícia deve ser dada no particular, nunca de forma pública.

Estabelecer uma rotina de diálogo contínuo: Compartilhar dificuldades e mudanças na estratégia da empresa, fazer avaliações construtivas e envolver os colaboradores nas decisões aumentam a confiança, a credibilidade e a compreensão dos funcionários a respeito de qualquer medida a ser tomada, mesmo que seja seu próprio desligamento.

Elogiar, de forma natural, as qualidades da pessoa demitida: É possível enaltecer os pontos fortes do trabalhador mesmo que a demissão seja por performance. Todo indivíduo possui qualidades e, com certeza, uma parte positiva e grande esforço foram depositados pelo funcionário ao longo de seu trabalho.

Prestar assistência ao colaborador desligado: Embora existam algumas obrigações previstas em lei as quais as empresas precisam fazer com o desligamento de um colaborador registrado, estar ciente da realidade de vida dele também é importante. Isso inclui manter contato após a demissão, oferecer ajuda caso seja necessário, fazer indicações daquele funcionário para outras organizações e fornecer suporte para recolocação no mercado.

 

Demitir faz parte, mas do jeito certo

Assim como contratar, demitir também está na rotina de quem é líder ou trabalha com gestão de pessoas. Portanto, realizar esse processo de uma maneira que seja saudável para os trabalhadores e para as organizações precisa ser uma prioridade do desenvolvimento das lideranças de toda empresa.

É, sim, possível fazer um desligamento humanizado, desde que seja realizado de forma transparente e empática. Porém, o que irá definir se esse objetivo será alcançado são os processos adotados na cultura corporativa antes e durante a demissão.

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