Sabe aquele colega de trabalho que dificilmente se voluntaria para realizar uma nova tarefa ou quase nunca oferece ajuda? Um tempo atrás, esse tipo de colaborador poderia ser mal visto pela equipe. No entanto, hoje, ele pode dizer que aderiu à demissão silenciosa.
O termo chamou atenção nas últimas semanas e virou tendência nos sites de buscas. O quiet quitting, em português “demissão silenciosa”, é usado para caracterizar os profissionais que estabelecem limites bem definidos entre trabalho e vida pessoal.
Apesar do nome, essa atitude não tem nada a ver com pedir demissão de fato. Os trabalhadores que aderem a este movimento defendem corresponder apenas às obrigações definidas na descrição do seu trabalho.
A psicóloga da It’sSeg, Patrícia Weisman, esclarece: “Antigamente, o bom colaborador era aquele que fazia jornadas extras, ficava mais tempo na empresa, justamente para mostrar uma boa produtividade. Hoje em dia, nós estamos vendo uma mudança na cultura corporativa, principalmente nessa nova geração de trabalhadores”.
Embora qualquer profissional possa aderir ao quiet quitting, sabe-se que a maioria do público faz parte da Geração Z e Millennials (pessoas nascidas a partir de 1995). Um dos principais focos desses indivíduos é trabalhar sem esgotamento e buscar um maior equilíbrio na relação entre empregador e funcionário.
O surgimento da demissão silenciosa
Em julho de 2022, diversos vídeos começaram a surgir nas redes sociais com colaboradores explicando seus motivos de não trabalharem além do que foi combinado na contratação. Eles também contam que não se importam em trabalhar mais ou assumir novas tarefas, contanto que sejam valorizados por isso.
Outro motivo para o surgimento do quiet quitting pode estar ligado à pandemia de covid-19. Com a prestação de trabalho em home office, houve aumento da compreensão de que se deve privilegiar a qualidade de vida e equilibrá-la com o trabalho.
“Qualquer pessoa pode ter um esgotamento físico ou mental, independentemente da faixa etária. Mas acredito que essa geração mais jovem, até por uma questão de maior conscientização, está priorizando cada vez mais a saúde. Eles querem que sobre mais tempo para fazer outras coisas da vida que não seja o trabalho. E isso influencia em outras gerações também”, explica Patrícia.
Demissão silenciosa preocupa lideranças
Empresas de recursos humanos, escritórios de advocacia e até startups de inteligência artificial entraram em campo para oferecer consultoria a outras empresas sobre o quiet quitting.
Ao que tudo indica, existe uma demanda: líderes em geral e organizações de diversos setores estão preocupados com a saída em massa de seus colaboradores. Segundo matéria do Estadão, o principal temor das lideranças é não enxergar a demissão silenciosa se espalhando bem próximo deles.
Neste aspecto, Patrícia Weisman fala sobre a importância da segurança psicológica nas empresas: “A segurança psicológica é quando o funcionário se sente pertencente, ou seja, ele fica confortável em falar abertamente sobre suas questões. Quando a empresa não proporciona um bom clima organizacional, chega uma hora que o colaborador não se identifica mais com o local onde trabalha e acaba desmotivado”.
Entre janeiro e maio de 2022, quase 3 milhões de brasileiros pediram demissão, de acordo com levantamento da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Este é o maior índice desde 2005, quando a pesquisa começou a ser feita.
O que as empresas podem fazer?
É inegável que grande parte do engajamento dos trabalhadores vem de uma boa política de benefícios e salário. Além disso, manter a comunicação e um clima transparente na equipe são fatores fundamentais para que a liderança consiga entender seus colaboradores.
“Eu não gosto muito desse termo ‘felicidade no trabalho’. Acredito que seja um bem-estar. Nós precisamos estar bem no nosso local de trabalho. Nem todo dia vamos conseguir dar o nosso 100% ou fazer uma tarefa que a gente goste. Mas os meus valores precisam estar alinhados com os mesmos valores da empresa. Isso repercute na produtividade, no engajamento e consequentemente na nossa saúde”, explica Patrícia.
Embora seja recente, é provável que a demissão silenciosa transforme as relações trabalhistas pelo aspecto primordial dos funcionários priorizarem a saúde e quererem resguardar suas vidas pessoais. Para os empregadores fica a oportunidade de refletir sobre o movimento e buscar equilibrar o que a empresa precisa e o que seus funcionários desejam.