Questionário de Riscos Psicossociais no Trabalho: estratégias para uma aplicação eficaz

14 de maio de 2025

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Com a atualização da NR-1, as empresas passaram a ter a obrigação de mapear e controlar os riscos que afetam a saúde física e mental dos trabalhadores. Essas ameaças devem estar contempladas no PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos, documento central para a gestão de segurança no trabalho.

Uma das ferramentas usadas nesse processo são os questionários psicossociais. Eles ajudam a entender o que está impactando o bem-estar das pessoas na organização, avaliando tópicos como:

  • situações de assédio moral, sexual ou violência no trabalho;
  • percepção de tratamento justo;
  • clima entre colegas e líderes;
  • reconhecimento pelo desempenho;
  • autonomia e liberdade para tomar decisões;
  • carga de trabalho.

Avaliação deve ser organizacional, não individual

É importante destacar a diferença entre os questionários voltados à avaliação emocional individual (que ponderam níveis de estresse, ansiedade ou depressão dos colaboradores) e aqueles que visam identificar os fatores psicossociais relacionados ao ambiente e à organização do trabalho. Este segundo grupo é o foco da NR-1 e do PGR, por isso, deve ser interpretado como um estudo organizacional.

Não se trata de medir a saúde mental de cada indivíduo, mas de identificar os aspectos do ambiente que podem estar contribuindo para o adoecimento coletivo. É uma análise do trabalho, não das pessoas.

Lara Siqueiros

Psicóloga de Promoção à Saúde, It'sSeg - Acrisure

Erro comum: usar questionários iguais em empresas diferentes

Lara explica que uma indústria agrícola, por exemplo, tem riscos diferentes de um escritório. “Quem trabalha no campo pode ficar semanas longe de casa, o que causa mais estresse. Um questionário feito para escritório não vai identificar esse problema”, alerta.

A psicóloga diz também que o questionário é só uma parte de como a organização deve escutar os funcionários. Ela destaca que essa estratégia deve fazer parte de um plano de escuta ativa. “Podem ser entrevistas individuais, pesquisas de clima ou canais de ouvidoria. É importante coletar diferentes tipos de dados para ter um retrato mais fiel dos riscos”.

A frequência com que o questionário é aplicado também importa. A NR-1 pede que os riscos para a saúde mental sejam revistos no PGR a cada dois anos, ou sempre que houver uma grande mudança na empresa.

Ambiente seguro: a chave para respostas reais

Outro desafio está na coleta das respostas. Muitos funcionários costumam marcar notas médias, como 5 ou 6, não expondo o que realmente sentem. Para Lara, isso acontece porque se sentem inseguros na empresa. “Eles têm medo de mostrar que estão com dificuldades e apontar as falhas do ambiente de trabalho. Acham que isso pode atrapalhar uma promoção ou até causar punições”.

Mesmo que o questionário seja anônimo, alguns ainda desconfiam. Para que as respostas sejam verdadeiras, a empresa precisa criar um ambiente de confiança.

“As pessoas precisam se sentir seguras para falar, dar opiniões e ter conversas difíceis”. Isso inclui ser claro na comunicação, explicar por que a pesquisa está sendo feita e mostrar que as respostas levam a mudanças de verdade. “Quando eles entendem o motivo e veem que a empresa age com base no que eles disseram, eles se tornam mais participativos”, pontua.

Em suma, aplicar um questionário para identificar os riscos psicossociais que afetam a saúde mental corretamente vai além de ter boas intenções. É preciso planejar, fazer perguntas específicas para cada tipo de trabalho, ouvir os funcionários de várias formas e, principalmente, se importar de verdade com o bem-estar deles.

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