Com a atualização da NR-1, as empresas passaram a ter a obrigação de mapear e controlar os riscos que afetam a saúde física e mental dos trabalhadores. Essas ameaças devem estar contempladas no PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos, documento central para a gestão de segurança no trabalho.
Uma das ferramentas usadas nesse processo são os questionários psicossociais. Eles ajudam a entender o que está impactando o bem-estar das pessoas na organização, avaliando tópicos como:
- situações de assédio moral, sexual ou violência no trabalho;
- percepção de tratamento justo;
- clima entre colegas e líderes;
- reconhecimento pelo desempenho;
- autonomia e liberdade para tomar decisões;
- carga de trabalho.
Avaliação deve ser organizacional, não individual
É importante destacar a diferença entre os questionários voltados à avaliação emocional individual (que ponderam níveis de estresse, ansiedade ou depressão dos colaboradores) e aqueles que visam identificar os fatores psicossociais relacionados ao ambiente e à organização do trabalho. Este segundo grupo é o foco da NR-1 e do PGR, por isso, deve ser interpretado como um estudo organizacional.
Não se trata de medir a saúde mental de cada indivíduo, mas de identificar os aspectos do ambiente que podem estar contribuindo para o adoecimento coletivo. É uma análise do trabalho, não das pessoas.
Erro comum: usar questionários iguais em empresas diferentes
Lara explica que uma indústria agrícola, por exemplo, tem riscos diferentes de um escritório. “Quem trabalha no campo pode ficar semanas longe de casa, o que causa mais estresse. Um questionário feito para escritório não vai identificar esse problema”, alerta.
A psicóloga diz também que o questionário é só uma parte de como a organização deve escutar os funcionários. Ela destaca que essa estratégia deve fazer parte de um plano de escuta ativa. “Podem ser entrevistas individuais, pesquisas de clima ou canais de ouvidoria. É importante coletar diferentes tipos de dados para ter um retrato mais fiel dos riscos”.
A frequência com que o questionário é aplicado também importa. A NR-1 pede que os riscos para a saúde mental sejam revistos no PGR a cada dois anos, ou sempre que houver uma grande mudança na empresa.
Ambiente seguro: a chave para respostas reais
Outro desafio está na coleta das respostas. Muitos funcionários costumam marcar notas médias, como 5 ou 6, não expondo o que realmente sentem. Para Lara, isso acontece porque se sentem inseguros na empresa. “Eles têm medo de mostrar que estão com dificuldades e apontar as falhas do ambiente de trabalho. Acham que isso pode atrapalhar uma promoção ou até causar punições”.
Mesmo que o questionário seja anônimo, alguns ainda desconfiam. Para que as respostas sejam verdadeiras, a empresa precisa criar um ambiente de confiança.
“As pessoas precisam se sentir seguras para falar, dar opiniões e ter conversas difíceis”. Isso inclui ser claro na comunicação, explicar por que a pesquisa está sendo feita e mostrar que as respostas levam a mudanças de verdade. “Quando eles entendem o motivo e veem que a empresa age com base no que eles disseram, eles se tornam mais participativos”, pontua.
Em suma, aplicar um questionário para identificar os riscos psicossociais que afetam a saúde mental corretamente vai além de ter boas intenções. É preciso planejar, fazer perguntas específicas para cada tipo de trabalho, ouvir os funcionários de várias formas e, principalmente, se importar de verdade com o bem-estar deles.