A rotação de culturas é uma das principais práticas que contribuem para a sustentabilidade da agricultura, principalmente no que se refere à produção de grãos. Por alternar os cultivos de maneira planejada e ordenada, ela reduz a degradação do solo e o desenvolvimento de pragas, contribuindo para a melhoria do desempenho econômico e social do agronegócio.
O Brasil, sendo um dos maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo, cumpre duas funções importantes: abastecer o mercado interno e externo. Entretanto, o sucesso dessas tarefas passa, necessariamente, pela adoção de tecnologias capazes de manter ou incrementar o potencial produtivo do solo, de modo que aumente a produtividade e contenha o uso de insumos.
O sistema de monocultura, ou mesmo a sucessão de culturas, promove, ao longo do tempo, alterações negativas para o ecossistema, provocando perdas por erosão e desequilíbrios ambientais. Consequentemente, esses problemas decorrentes da ausência da diversificação de espécies têm resultado em margens de lucro menores para os produtores rurais.
Sendo assim, o uso de outras espécies na produção, cultivadas em rotação, têm a função de trazer benefícios para o sistema produtivo como um todo.
O que é rotação de culturas
A rotação de culturas consiste em alternar, em determinado espaço de tempo (ciclo), o cultivo de diferentes espécies de plantas em uma mesma área e estação do ano. Essa técnica tem como objetivo a conservação do solo e, por consequência, o aumento da produtividade.
Apesar de ainda hoje ser um desafio para os agricultores, a rotação de culturas é uma prática agrícola antiga. Os romanos, na Antiguidade, já relatavam que a produtividade dos cereais era maior quando cultivados após o tremoço ou a ervilhaca, por exemplo.
Além disso, a rotação de culturas está entre os componentes básicos do sistema de plantio direto (SPD). Esse sistema de produção surgiu na década de 1970, no Paraná, e pode ser definido como a semeadura ou cultivo de plantas sem preparo físico do solo – isso é, não são realizadas etapas de preparo habituais, como aração e gradagem.
O plantio direto é, de acordo com a Embrapa, uma prática conservacionista. A semeadura é feita diretamente sobre a palhada da cultura anterior, o que reduz o impacto da chuva e a temperatura do solo, ao mesmo tempo que conserva a umidade e controla ervas daninhas. Contudo, para o sucesso do SPD, a diversidade de espécies é fundamental. Caso contrário, não haverá cobertura de solo suficiente, acarretando:
- a diminuição do teor de matéria orgânica (MOS);
- a degradação da estrutura do solo;
- a intensificação dos processos erosivos;
- a redução da atividade e diversidade biológica;
- o aumento da incidência e severidade de pragas e doenças;
- e o aumento da infestação de plantas daninhas.
Como fazer a rotação de culturas
Para fazer a rotação de culturas não basta escolher plantas diferentes. Preferencialmente, ela deve contar com espécies que possuem sistemas radiculares distintos (gramíneas e leguminosas, por exemplo) onde cada uma delas deixa um efeito residual positivo para o solo e para a cultura sucessora.
O planejamento deve ser pensado para rotacionar famílias botânicas; ciclagem de nutrientes; adubos verdes e espécies formadoras de palhada; problemas fitossanitários; multiplicação de nematoides; entre vários outros fatores. Em geral, as espécies cultiváveis são selecionadas de acordo com alguns critérios:
- Apresentar propósito comercial e de recuperação do solo;
- Produzir biomassa suficiente para controlar processos erosivos, diminuir as oscilações de temperatura e reduzir a perda de água;
- Proporcionar condições favoráveis para diminuir a ação de pragas, doenças e plantas daninhas;
- Apresentar exigências nutricionais e nutrientes diferentes.
Claro, a escolha precisa dar preferência às espécies mais adaptadas para cada região, que tenham ciclos compatíveis com a entre safra. É desejável, também, que não se comportem como invasoras e tenham utilidade como forrageiras e/ou produtoras de grãos.
Um dos principais mitos sobre a rotação é que seria necessário deixar de produzir culturas rentáveis, como a soja, por exemplo, por uma safra. Isso é um engano, porque, na verdade, é possível dividir a propriedade em partes e realizar a rotação de culturas entre os talhões.
Benefícios da rotação de culturas
A diversificação de culturas promovida pela rotação, ao longo dos anos, contribui para a estabilidade de toda a produção. Isso porque, gera melhorias nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo.
Como as espécies possuem sistemas radiculares diferentes, há maior ciclagem de nutrientes. Dessa forma, os nutrientes que estão fora do alcance de raízes mais rasas são recuperados por sistemas radiculares mais profundos. Além disso, após a morte das plantas, seus resíduos continuam na superfície do solo.
Algumas plantas também atuam como “adubo verde”. Geralmente, segundo o Instituto Agro, elas possuem uma relação baixa de carbono/nitrogênio, o que favorece a decomposição e liberação dos nutrientes no solo. Já aquelas utilizadas como cobertura possuem alta relação de carbono/nitrogênio, resultando em maior duração da palhada na superfície.
Portanto, ao intercalar plantas distintas e mantendo a cobertura permanente do solo, ao longo das safras, em um sistema de rotação de culturas, é possível aumentar não só a fertilidade química da terra, como também gerar mais matéria orgânica.
O teor de matéria orgânica no solo, vale lembrar, impacta diretamente na sua estabilidade: na retenção de água, na biodiversidade e, consequentemente, nos nutrientes para as plantas. Além de estimular o desenvolvimento de microrganismos benéficos ao solo, que podem atuar no controle de pragas, doenças e plantas daninhas.
Rotação de culturas e sustentabilidade
Experimentos conduzidos pela Embrapa, em diversas regiões do país, também demonstraram os benefícios da rotação de culturas para a sustentabilidade da produção. Com o aumento da qualidade do solo, essa prática ajuda a reduzir custos com insumos agrícolas e torna maior a estabilidade das culturas frente a variações climáticas intensas.
Por fim, mas não menos importante, a produção de diferentes culturas permite a diversificação da renda da propriedade, contribuindo ainda para a redução dos riscos de mercado e de clima, inerentes à atividade agrícola.
Além disso, boas práticas de manejo do solo, como a rotação de culturas, são valorizadas pelas seguradoras que oferecem o seguro agrícola, uma alternativa vantajosa de proteção para quem investe diariamente seus recursos, tempo e dedicação no agronegócio.