Uma pesquisa do Datafolha encomendada pela Zenklub, plataforma de saúde mental, identificou que 6 em cada 10 brasileiros se sentiram sobrecarregados com o trabalho nos últimos 12 meses. O levantamento teve como objetivo entender o impacto da pandemia na saúde mental do trabalhador no país e foi realizado em agosto, com 1.197 pessoas a partir de 18 anos.
Quando questionados sobre os sentimentos que vieram à tona no período, os trabalhadores afirmaram que tiveram ansiedade (66%), exaustão ou muito cansaço (61%), insônia ou dificuldade para dormir (54%) e depressão (26%).
A depressão esteve mais presente entre os entrevistados que têm filhos (28%), enquanto a ansiedade entre aqueles que não têm filhos (69%). Os dados também mostraram que quanto mais jovem, maiores são os sintomas de exaustão e cansaço: 70% entre pessoas de 18 a 24 anos e 67% entre aqueles de 25 e 34 anos.
Importante dizer que todos os índices foram significativamente maiores entre as mulheres. Por exemplo, 69% das mulheres disseram ter sentido exaustão ou muito cansaço, enquanto 54% dos homens deram resposta afirmativa.
Homem (%) | Mulher (%) | |
Insônia ou dificuldade para dormir | 45% | 64% |
Exaustão ou muito cansaço | 54% | 69% |
Ansiedade | 57% | 76% |
Depressão | 21% | 33% |
Por que a exaustão afeta mais as mulheres?
Um relatório da consultoria McKinsey, divulgado em setembro de 2021, mostrou que 42% das mulheres se sentem esgotadas frequentemente ou quase sempre durante a pandemia. O índice é 10% maior do que antes da crise sanitária. Entre os homens, o número foi de 35%. O estudo entrevistou 65 mil pessoas de 423 organizações nos Estados Unidos.
“À medida que as empresas continuam a gerenciar os desafios da pandemia e procuram construir um local de trabalho mais igualitário para o futuro, elas precisam se concentrar em duas prioridades principais. Primeiro a de promover todos os aspectos da diversidade e inclusão. Depois, de lidar com o desgaste crescente que todos os funcionários – mas principalmente as mulheres – estão experimentando “, afirma o relatório.
No estudo “Iniciativa Mulheres no Trabalho: o Impulso para a Igualdade”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), os autores reforçam que o mundo do trabalho foi modelado “pelos homens para os homens” e não se adaptou com a integração das mulheres, exigindo que elas se adequassem ao padrão. Isso se mantém até os dias de hoje.
O emprego remunerado foi adicionado a sua lista de tarefas. Para se ter uma ideia, estima-se que as mulheres realizam cerca de 2,5 vezes mais tarefas domésticas não remuneradas e de cuidados que os homens. Além do desgaste físico e emocional, essa realidade muitas vezes limita as chances de elas se dedicarem ao trabalho, o que reduz as possibilidades de crescimento profissional.
Em entrevista ao Universa, Paula Castilho, sócia da McKinsey no Brasil, comenta que a diferença entre o desgaste da população masculina e feminina fica mais evidente entre as mães. “Elas são duas vezes mais propensas do que os pais a se preocupar que suas responsabilidades como cuidadoras resultem em julgamentos negativos de seu desempenho profissional. Com isso, um terço das mães, versus um quarto dos pais, estão pensando em deixar a força de trabalho ou ‘desacelerar’ suas carreiras”, afirma, citando estudos da empresa feitos nos Estados Unidos.
Acesso a benefícios de saúde mental ainda é baixo
A pesquisa do Datafolha também mostrou que 64% dos trabalhadores brasileiros não recebem benefícios corporativos para cuidar da saúde mental. Por outro lado, 86% dos entrevistados consideram que recursos como terapias online e treinamentos sobre habilidades emocionais podem ajudar a lidar com os impactos da pandemia.
Entre aqueles que têm um chefe no local de trabalho, a maioria (73%) respondeu ter abertura para falar de saúde mental com o superior. Mulheres se sentem menos confortáveis (32%) do que os homens (23%) para falar sobre o tema com seus chefes. O mesmo ocorre entre os mais jovens, de 18 a 24 anos (41%), e pessoas que se sentiram sobrecarregadas durante a pandemia (31%).
“A quantidade de pessoas com acesso a benefícios corporativos de saúde emocional é baixa, ao mesmo tempo em que a consciência que os trabalhadores têm da importância do oferecimento desses benefícios é grande”, comenta Rui Brandão, cofundador e CEO do Zenklub.
Para Brandão, cada vez mais esse ponto passará a ser colocado na balança, tanto quando um profissional escolhe uma empresa para trabalhar, quanto quando decide permanecer (ou não) ali. “É urgente que líderes, gestores e profissionais de Recursos Humanos acolham essa necessidade e ajam sobre ela. Quando acolhemos as pessoas em toda a sua complexidade, todos ganham”, observa.