Burnout deixou de ser apenas um alerta de saúde mental e se consolidou como um dos principais desafios trabalhistas e regulatórios do país. No primeiro semestre de 2025, as ações judiciais relacionadas ao tema movimentaram um passivo bilionário em indenizações, pressionando empresas a repensarem suas práticas de gestão de riscos psicossociais.
Burnout no Brasil: Dados e Consequências
De janeiro a abril de 2025, o número de ações trabalhistas relacionadas a burnout cresceu 14,5% em comparação com o ano anterior. O valor médio das indenizações por danos morais chega a R$ 368,9 mil, resultando em um passivo de mais de R$ 3,75 bilhões para as empresas.
Em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais, segundo o Ministério da Previdência Social — o maior número da última década. Entre os diagnósticos mais comuns estão transtornos de ansiedade (141.414 casos) e episódios depressivos (113.604 casos). Um levantamento da Acrisure mostrou que a faixa etária mais afetada é a dos Millennials (1981–1994), que responde por 43% dos afastamentos, seguida pela geração Z (33%).
Segundo dados da ISMA-BR, 40% das pessoas entre 18 e 30 anos relataram sintomas de burnout em 2024, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Esses números evidenciam o impacto da sobrecarga de jornadas e da instabilidade financeira sobre as gerações mais jovens.
Descompasso entre percepção e ação nas empresas
Apesar do aumento da conscientização sobre a importância da saúde mental, muitas empresas ainda não possuem estruturas adequadas para lidar com o tema. Uma pesquisa da Acrisure, realizada em parceria com a consultoria Robert Half, revelou que 33,51% dos profissionais de RH afirmam que suas empresas reconhecem a relevância do tema, mas não possuem programas estruturados.
Outros 23% consideram essas iniciativas apenas um benefício adicional, enquanto 17% apontam que a saúde mental não é vista como prioridade. Apenas 24% das empresas tratam o bem-estar emocional como uma prioridade estratégica.
Além disso, quase metade das organizações (49%) não mensura os ganhos de ações de promoção da saúde mental. Entre as que fazem algum tipo de avaliação, 32,7% utilizam pesquisas de satisfação dos colaboradores e apenas 21,2% medem o retorno sobre o investimento por indicadores como redução do absenteísmo, aumento da produtividade e diminuição de custos com saúde.
Novas obrigações legais
Desde 2022, o Brasil adotou a 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que define o burnout como resultado de estresse crônico no trabalho. Em maio de 2025, a atualização da NR-1 do Ministério do Trabalho entrou em vigor, exigindo que as empresas avaliem e gerenciem os riscos psicossociais.
“Mesmo com maior compreensão sobre a importância da saúde mental, ainda falta estrutura e estratégia para transformar percepção em ações concretas. Com a atualização da NR-1, promover o bem-estar emocional deixou de ser apenas uma escolha e passou a ser obrigação legal”, avalia Márcio Tosi, vice-presidente técnico de benefícios corporativos na Acrisure.
Essa nova realidade exige que as organizações monitorem fatores como sobrecarga de tarefas, assédio e longas jornadas, implementando medidas de prevenção. O avanço do burnout é um desafio para as empresas, que agora precisam se adaptar a um novo cenário regulatório e de compliance.