Ludopatia no trabalho: como o RH pode lidar com o vício em apostas

04 de agosto de 2025

Tempo estimado de leitura: 2 minutos

A popularização das apostas esportivas no Brasil trouxe um novo desafio para o mundo do trabalho: o aumento de casos de ludopatia. Embora ainda não conste em todas as classificações como um diagnóstico formal, a compulsão em jogos de azar já vem sendo motivo de afastamento por saúde mental. Entre junho de 2023 e abril de 2025, o INSS concedeu 276 auxílios-doença por esse motivo. Antes, a média anual não passava de 11.

Os dados indicam um perfil: 73% dos afastados são homens e 80% têm entre 18 e 39 anos. Pelo menos 7% dos casos envolvem segurados com filhos, o que acentua as repercussões sociais.

Apostas no Brasil: um mercado em crescimento

Segundo o Instituto DataSenado, 42% dos brasileiros que apostaram ao longo de um mês estava endividados, com contas atrasadas há mais de 90 dias. A maioria tinha trabalho remunerado (68%) e 52% ganhavam até dois salários-mínimos.

Um estudo do Banco Central complementa: o valor médio gasto por pessoa varia com a idade. Em 2024, jovens gastaram cerca de R$ 100 mensais com apostas e jogos de azar, enquanto os mais velhos ultrapassaram R$ 3.000 por mês.

Como identificar sinais de ludopatia

Embora cada caso exija avaliação individual, a compulsão por apostas pode se manifestar de formas sutis:

  • Queda de produtividade e aumento de erros;
  • Ansiedade, irritabilidade, insônia e falta de concentração;
  • Solicitações frequentes de adiantamentos ou empréstimos;
  • Comportamentos evasivos ou mudanças bruscas de humor;
  • Comentários sobre perdas financeiras ou apostas durante o expediente.

Qual deve ser o papel do RH?

O perfil dos afastamentos mostra que a ludopatia atinge profissionais em idade produtiva, com impactos diretos na operação, no clima e na sustentabilidade da força de trabalho.

O RH deve atuar de forma preventiva, acolhedora e estratégica, promovendo um ambiente que reconheça a saúde mental e financeira como parte da cultura.

Ações recomendadas:

  • Mapear sinais precoces e afastamentos com foco em fatores psicossociais;
  • Treinamento da liderança para lidar com o tema sem estigma;
  • Promover campanhas educativas sobre saúde financeira e comportamentos de risco;
  • Canais de escuta seguros para que colaboradores possam buscar ajuda com confiança.
  • Programas de Apoio ao Empregado (PAE) ou parcerias com psicoterapeutas.

E o risco trabalhista?

Segundo o artigo 482, inciso “l”, da CLT, o envolvimento habitual com apostas e jogos de azar pode justificar demissão por justa causa, desde que haja comprovação. No entanto, se o colaborador estiver em tratamento psiquiátrico ou afastado, a dispensa pode ser considerada discriminatória pela Justiça do Trabalho.

Por isso, é fundamental que as empresas adotem uma postura empática e preventiva, em vez de punitiva. O apoio institucional não só fortalece a cultura organizacional, mas também reduz riscos legais e protege a reputação da marca empregadora.

Compromisso com um ambiente ético e saudável

As empresas têm a responsabilidade de criar ambientes que desencorajem comportamentos nocivos e estimular o cuidado com a saúde integral.

  • Palestras, rodas de conversa, canais de escuta e ações educativas ajudam a quebrar o tabu e promover acolhimento.
  • O apoio contínuo também reduz riscos trabalhistas, fortalece a confiança interna e contribui para um ambiente mais ético, produtivo e equilibrado.

O envolvimento do RH é decisivo: ele pode ser um agente transformador, atuando na prevenção, no suporte e na construção de uma cultura mais empática.

Assista “Apostas Online e Saúde Mental: o risco invisível no seu time”, com a psicóloga Lara Siqueiros, o coordenador de promoção à saúde Wallace de Souza e Gui Casagrande, especialista em saúde financeira.

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