Afastamentos são sempre um momento delicado. O funcionário é retirado de suas atividades habituais por alguma doença ou lesão, podendo levar semanas, meses ou até anos para que ele retorne.
Os casos em que os colaboradores precisam se afastar durante bastante tempo são os mais complexos. A empresa, muitas vezes, passa por mudanças na política, organização interna e, ao retornar, o trabalhador se depara com um cenário totalmente diferente de quando saiu.
Pensando nisso, realizamos o nosso primeiro webinar do ano, no qual falamos sobre como acolher o funcionário afastado. O bate-papo contou com a expertise de Marlene Capel, diretora da B2P, e Rafaela Neves, gerente em gestão de saúde na It’sSeg.
Por que as estratégias de retorno dos afastados são importantes?
Ter processos bem definidos para o acolhimento desses trabalhadores contribui para o sucesso geral da organização, promovendo um ambiente saudável, produtivo e positivo.
Rafaela Neves comenta que é neste momento no qual são cometidos erros que podem custar tempo, dinheiro ou até o desligamento do colaborador.
“Os trabalhadores voltam e ficam deslocados, pois não conseguem se adaptar à nova realidade. Por consequência, eles não se sentem mais parte da organização e acabam perdendo produtividade, rendimento e, em alguns casos, escolhem partir para uma outra empresa”, diz.
Por essas razões, a companhia precisa estabelecer uma comunicação transparente com o colaborador em recuperação. Essa é uma das estratégias que Marlene afirma ser essencial para que o retorno não aconteça de forma brusca.
“Oferecer apoio e atualizações sobre o que está acontecendo na empresa pode ajudar a mantê-lo conectado. Fornecer informações claras sobre os benefícios disponíveis, como licença médica remunerada, seguro saúde e outros benefícios que possam ser aplicáveis ao período de afastamento, é fundamental”, pontua.
Se possível, oferecer opções flexíveis de retorno, como horários ajustados, trabalho remoto ou uma reintegração gradual para permitir que o funcionário se adapte à volta ao trabalho, também é interessante.
Marlene ressalta a relevância de fazer treinamentos, quando necessário. “Se apropriado, ofereça oportunidades de desenvolvimento durante o período de afastamento para ajudar o funcionário a manter suas habilidades atualizadas e se preparar para o retorno”.
Além disso, Rafaela salienta a importância de respeitar a privacidade do colaborador. “Precisamos lembrar de não pressionar o afastado a compartilhar detalhes sobre sua condição médica, a menos que ele opte por fazê-lo”.
Estratégias existem, então, como colocá-las em prática?
Quando um profissional fica fora do trabalho por um período, há uma ruptura no cotidiano da equipe. Portanto, inicialmente é necessário entender como ficarão as demandas que pertenciam ao colaborador ausente.
Um dos deveres do gestor é analisar a distribuição dessas atividades para que ninguém fique sobrecarregado. Caso necessário, colocar um novo funcionário, mesmo que de forma temporária, para suprir o desfalque.
No entanto, cabe ressaltar que mesmo quando o profissional fica afastado e passa a receber auxílio do INSS, ele continua sendo um colaborador da empresa. Ou seja, substituí-lo não é uma opção.
Marlene explica a importância de agir com naturalidade: “Algumas informações não são de domínio público, ou seja, nem todos os funcionários querem que seus colegas fiquem sabendo o motivo que ocasionou o afastamento”.
Retorno ao trabalho: Como acolher um colaborador que passou por sofrimento emocional?
E quando a pessoa volta com restrições?
Em certos casos, o trabalhador não consegue desempenhar a mesma função que exercia antes, geralmente por alguma limitação ocasionada pela lesão ou doença que o acometeu.
A pessoa pode, por exemplo, ser inserida em um novo contexto. Neste caso, a empresa deve identificar, internamente, outra oportunidade que se adeque melhor a nova condição do colaborador.
Rafaela também aponta a relevância de fazer treinamentos diante desses casos. “O gestor deve promover um trabalho inclusivo e avaliar a necessidade de explicar ao colaborador que estava afastado, as novas funções que ele terá”.
A gerente em gestão de saúde acrescenta que, neste momento de retorno e acolhimento, é importante que não haja uma pressão para entrega de resultados, pois o empregado terá de passar por um período de adaptação.
Sinais de que o colaborador não está conseguindo se adaptar às mudanças
Observar como está o desempenho do colaborador, se ele parece estar desmotivado, com queda na produtividade, relutante para participar de reuniões do trabalho, também são aspectos importantes.
“Avaliar a mudança de comportamento, como ele está reagindo ao novo momento, são percepções importantes que o gestor deve ter”, afirma Rafaela.
Marlene adiciona que certos afastamentos ocasionam mudanças mais visíveis do que outras. Logo, “é preciso avaliar se ele ainda está com alguma sequela, dores em decorrência do afastamento, principalmente aqueles que sofreram lesões permanentes”.
Como reconhecer sofrimento emocional no ambiente de trabalho?
Sinais de que o retorno do trabalhador afastado foi um sucesso
Para Rafaela, esses pontos são mais fáceis de identificar, pois geralmente as entregas de atividades correspondem às expectativas. De qualquer forma, é válido uma conversa franca e transparente entre ambas as partes para conferir se os objetivos estão alinhados.
Marlene também ressalta que avaliar os indicadores de afastamento, como a sinistralidade do plano de saúde, é importante. “Dessa forma, é possível analisar se outras ausências pelo mesmo motivo estão ocorrendo e, assim, trabalhar em ações internas para prevenir novas ocorrências”.
Analisar como está a gestão de saúde da sua empresa pode ser um ótimo passo para prevenir que esses afastamentos aconteçam. A segurança na organização deve ser tão primordial quanto o fornecimento de subsídios para que o colaborador afastado não fique desamparado.